Título: Aquecimento do Atlântico pode ser a causa, dizem especialistas
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 15/10/2005, O País, p. 12

Desmatamento e poucas chuvas no verão são outros fatores

MANAUS. O aquecimento do Oceano Atlântico pode ser um dos responsáveis pela seca na Amazônia, explica o meteorologista do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) Gilvan Sampaio. Outros dois fatores, porém, contribuem para agravar a estiagem: o menor índice de chuvas no verão dos últimos quatro anos e o desmatamento.

O aquecimento do Atlântico tem origem desconhecida, apesar das especulações de que estaria ligado à poluição ou à ação do homem sobre o meio ambiente. Nos últimos meses, a temperatura média da água no Hemisfério Norte subiu entre meio e dois graus centígrados.

Elevação da temperatura reforçou ventos

Essa elevação reforçou ventos que normalmente já sobem do oceano para o céu. O ar ascendente desce sobre a floresta em determinado período do ano. Tal movimento dificulta a formação de nuvens e, portanto, reduz a freqüência das chuvas. Por isso a Amazônia convive com períodos secos anualmente, entre maio e setembro.

¿ Ventos sobem no Atlântico e vão descer em cima da Amazônia. O pico ocorre entre junho e agosto. Onde desce o vento, não chove. Com o oceano mais quente, o ar que sobe é mais intenso ainda ¿ diz Sampaio.

Este ano, a seca se aliou à redução das chuvas no verão, fenômeno que vem se repetindo nos últimos quatro anos na região, segundo o meteorologista. Com isso, havia menos água acumulada na bacia amazônica.

O desmatamento diminui o volume de água disponível para a evaporação: as árvores ajudam a umedecer o ar, pois a água que extraem com a raiz transpira pelas folhas.

Nota conjunta divulgada anteontem pelo centro de previsão e o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) informa que o Sul e o Oeste do Amazonas, além do Acre, tiveram em 2005 o mais baixo índice pluviométrico dos últimos 40 anos. Os dois órgãos prevêem que vai chover menos do que a média histórica no sudoeste do Amazonas e no Acre no próximo trimestre.