Título: PT vai se proteger contra o caixa dois em 2006
Autor: Ricardo Galhardo
Fonte: O Globo, 15/10/2005, O País, p. 14

Para evitar possíveis irregularidades no financiamento da disputa do ano que vem, partido terá tesouraria independente

SÃO PAULO. Escaldado pelo maior escândalo em 25 anos de existência, o PT adotará medidas para proteger o partido em relação a possíveis irregularidades envolvendo financiamento de campanhas nas eleições de 2006. Segundo o presidente eleito do PT, Ricardo Berzoini, a campanha eleitoral do ano que vem terá uma tesouraria desvinculada do partido. Em 2002, o então secretário de Finanças do PT, Delúbio Soares, acumulou a tesouraria da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva. O objetivo é evitar contaminação da finanças do partido, como aconteceu em 2004, já que, segundo o presidente eleito do PT, é impossível fiscalizar todos os candidatos para evitar o caixa dois.

¿ É um princípio básico para evitar a contaminação entre a vida institucional do partido, que continua depois das eleições, e uma campanha política, que tem prazo determinado. Boa parte da dívida do PT é relacionada à campanha de 2004. Portanto, não é razoável que tenhamos esses vasos contaminadores ¿ disse Berzoini.

A desvinculação das tesourarias era prática comum no PT até o início da década de 90. Integrante do diretório nacional do partido, Francisco Rocha, o Rochinha, que já coordenou campanhas do PT em eleições passadas, também é favorável à proposta.

¿ Uma boa parte do material e da estrutura das campanhas era mais regionalizada. Às vezes isso fica mais caro, mas ajuda a descentralizar ¿ disse Rochinha.

Segundo Berzoini, além da independência das tesourarias, o PT deve tomar outras medidas para evitar irregularidades iguais às que levaram o partido à crise. Um grupo de trabalho foi criado para normatizar as atividades financeiras do PT.

¿ Vamos propor um manual de procedimentos para gestão financeira com orientações, por exemplo, sobre normas de transparência e compartilhamento de informações. Já discuti isso com Tarso (Genro, atual presidente) e (José) Pimentel (tesoureiro) e devemos apresentar esta proposta assim que a nova direção tomar posse ¿ diz Berzoini, que assume no sábado que vem, na reunião do diretório nacional.

Para Tarso, a desvinculação ajuda a proteger o partido e, caso tivesse sido feita antes, poderia ter reduzido os danos causados ao PT pela crise atual.

¿ Já levantei esta questão em reuniões internas. Sou totalmente favorável por motivos técnicos e para preservar o partido. Provavelmente o PT seria muito menos atingido do que foi se tivéssemos feito isso antes ¿ disse Tarso.

Segundo ele, as medidas ajudam a reduzir a chance de algum candidato petista fazer caixa dois na eleição de 2006.

¿ É impossível garantir que se elimine o caixa dois em todos os partidos nesta eleição. Mas isso não exime nossa responsabilidade de tentarmos eliminar internamente. Dificilmente o PT terá alguma irregularidade na próxima eleição. Embora seja impossível controlar algumas por conta da legislação eleitoral. Este controle é difícil e é para isso que queremos mudar a legislação ¿ disse o atual presidente.

Além disso, o PT já discute mudanças na estrutura de campanha para o ano que vem. Diferentemente do que ocorreu na eleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002, quando o então presidente do PT, José Dirceu, centralizou poderes sobre a coordenação de campanha, em 2006 a equipe deve ser descentralizada em diversas áreas-chave. Mas Berzoini espera ser o coordenador-geral da campanha de Lula.

¿ A coordenação geral normalmente cabe ao presidente do partido, mas teremos uma campanha descentralizada com setores para comunicação, finanças e alianças políticas ¿ diz ele.

O PT, por outro lado, terá um Grupo de Trabalho Eleitoral (GTE) responsável por municiar a equipe de Lula com informações regionais e coordenar as eleições nos estados. Berzoini admite a participação de representantes de outros partidos da base no núcleo da campanha.

¿ Não apenas é possível como necessário reproduzir a aliança na coordenação da campanha ¿ afirma.

Se depender do presidente eleito do PT, a equipe que coordenará a corrida de Lula pela reeleição no ano que vem será bem diferente da de 2002. Nomes como Dirceu, Delúbio, João Paulo Cunha e Sílvio Pereira, que tiveram papel central há três anos e foram atingidos por denúncias de corrupção, não participarão da equipe do ano que vem.

¿ Todas as pessoas que participaram da campanha de 2002 foram importantes, mas ninguém é insubstituível. A campanha do ano que vem deve contar com pessoas que tenham experiência de outras eleições, mas evidentemente que aqueles que respondem a acusações não têm condições de participar ¿ afirmou.

O PT ainda não iniciou a discussão sobre nomes, mas Tarso é cotado como o mais adequado para comandar a elaboração do programa de governo, desde que não seja candidato ao governo do Rio Grande do Sul. Em 2002, quem exerceu a função foi Antonio Palocci, hoje ministro da Fazenda.

www.oglobo.com.br/pais