Título: Esquerda do PT quer restringir alianças em 2006
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 15/10/2005, O País, p. 17

Até Campo Majoritário avisou que partido deve pedir mudanças nas políticas sociais e de desenvolvimento

BRASÍLIA. No Palácio do Planalto, a sensação de alívio imediato com a vitória do deputado Ricardo Berzoini (SP) para a presidência do PT chegou acompanhada de uma avaliação cautelosa do núcleo do governo Lula de que a relação com o partido deve mudar de forma significativa de agora em diante. A vitória de Berzoini dá ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva a tranqüilidade de que não haverá hostilidade. Mas isso não significa total desenvoltura e facilidade do Campo Majoritário na composição das alianças para a reeleição de Lula.

Pelo contrário. O cenário analisado pelos conselheiros do presidente é de que as tendências de esquerda do PT, que cresceram significativamente nesta eleição interna, vão tentar impor critérios rígidos para que não se repitam alianças de todos os tipos, como as feitas com PL, PTB e PP. E vão também exigir mudanças no programa de governo, especialmente no rigor da política econômica. Até integrantes do Campo Majoritário já avisaram que o partido também deve pedir mudanças nas políticas sociais e de desenvolvimento.

Mesmo com dificuldades à vista, a eleição de Berzoini foi comemorada por Lula. Nas semanas que antecederam a eleição do último domingo, a possibilidade de vitória de Raul Pont (RS), representante da esquerda, era classificada como o pior cenário. Além de ser um crítico da política econômica, Pont teria efetivamente poderes para restringir as alianças políticas em 2006.

¿ É evidente que ajuda o governo alguém como Berzoini, que, mesmo com uma visão crítica em muitos pontos, sabe fazer um balanço do conjunto de ações realizadas pela gestão Lula. Mas não vejo problema na nova correlação de forças do PT ¿ avalia o ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner.

Para o prefeito de Aracaju, Marcelo Déda, do Campo Majoritário, as relações entre o PT e o governo transformaram-se de forma definitiva. Diz que é positivo o fato de o partido ganhar um grau de autonomia maior em relação ao governo, mas prega a serenidade.

¿ O grande desafio é juntar duas coisas: ser crítico, mas sem abrir mão de defender o governo. Acho que não cabe ao PT liderar ações contra o que está dando certo no governo. Nesse momento, o PT necessita de ¿Nossa Senhora do Bom Senso¿ como sua padroeira ¿ disse Déda.

Sobre as alianças, o prefeito cobra mudança nos métodos utilizados pela antiga direção:

¿ Para mim, está sepultada a prática de fazer alianças bancadas em contribuições financeiras.