Título: CRIANÇAS DA ROCINHA BRINCAM DE GUERRA DE QUADRILHAS
Autor: Elenilce Bottari e Tais Mendes
Fonte: O Globo, 15/10/2005, Rio, p. 18

Uma professora do ensino fundamental de uma escola de São Conrado que prefere não se identificar conta que seus alunos, a maioria moradores da Rocinha, há cerca de quatro meses começaram a faltar muito as aulas. Ao convocar os pais, soube que os meninos, entre 10 e 14 anos, passavam a madrugada brincando de guerra de quadrilhas nas ruas da favela. Encapuzados, com armas confeccionadas com PVC, os meninos se dividiam em grupos, denominados por eles de facções: do Valão, da Vila Verde e da Rua Um (localidades da Rocinha).

¿ Isso nada mais é do que viver o crime. A brincadeira tomou tamanha proporção que os traficantes ordenaram que acabasse. Mas já soube que as crianças voltaram a ¿guerrilhar¿ nas ruas da favela.

Segundo a professora, as crianças levam para as salas de aula a torcida pelos traficantes da Rocinha:

¿ Eles sabem quando vai ter invasão a outras favelas e torcem desde a véspera.

Nem mesmo por questões de saúde moradores são capazes de transpor a barreira. A professora conta que um projeto de atendimento dentário no Vidigal não consegue estender seus serviços à Rocinha:

¿ As dentistas, que periodicamente percorrem a Rocinha, encaminham crianças para tratamento no Vidigal, mas elas nunca aparecem.

A professora fala do fascínio de seus alunos pelo traficante Bem-te-Vi. Churrasco, tênis novo, bolos e brinquedos conquistam os meninos e muitos acabam no tráfico:

¿ No Dia de Cosme e Damião, o traficante ofereceu um bolo gigantesco e distribuiu um caminhão de brinquedos.