Título: Mães que trabalham ganham 27% menos que mulheres sem filhos
Autor: Liane Thedim
Fonte: O Globo, 15/10/2005, Economia, p. 32

Economistas dizem que dado mostra discriminação por parte de empresas

Na corrida ao mercado de trabalho, além de conviver com a dupla jornada e a discriminação em relação aos homens, as mulheres são obrigadas a enfrentar a desigualdade também entre suas iguais: o salário-hora pago às mães é, em média, 27% menor que o das trabalhadoras sem filhos. É o que revela o estudo ¿A maternidade e a mulher no mercado de trabalho¿, de Elaine Toldo Pazello, professora do Departamento de Economia da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP.

A maternidade começa a ter reflexos práticos no comportamento das mulheres no mercado de trabalho logo após o nascimento da criança. Pelo estudo, a participação feminina cai de 65,73% (sem filhos) para 55,68% (com filhos). Ou seja, muitas param de trabalhar para se dedicar mais à prole, até os dois anos de idade.

¿ Elas não têm com quem deixar os filhos, e pagar a babá ou creche é caro. O salário da mulher pode não ser suficiente para custear isso ¿ diz Elaine.

Falta de políticas públicas agrava o problema

Ao mesmo tempo, o sistema de creches e escolas públicas é ineficiente. Marcio Pochmann, professor de Economia da Unicamp, lembra que, em São Paulo, por exemplo, só um terço das crianças de até seis anos é atendido pelo sistema público.

Quando essas mulheres voltam a buscar um emprego, segundo Elaine, dão preferência a trabalhos com jornada menor ou mais flexível, que em geral pagam salários menores, para melhor dividir seu tempo entre o emprego e os cuidados com os filhos. O estudo ¿ que usou dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad), do IBGE ¿ mostra que mulheres com idade entre 15 e 52 anos sem filhos trabalham 13% mais tempo do que as que têm filhos.

Outro motivo para a defasagem salarial, afirma ela, é a perda de produtividade devido ao período em que a mulher ficou fora do mercado. Mas isso desaparece com o tempo. Quando a faixa etária avaliada é de 40 a 52 anos, a diferença no rendimento some.

Marcelo Neri, da Fundação Getulio Vargas, e Pochmann alertam, porém, que a desigualdade mostra a existência de uma prática discriminatória por parte das empresas.

¿ É uma discriminação intragênero, em que a presença ou não de filhos dificulta a trajetória profissional e a remuneração ¿ diz Pochmann.

Já Neri afirma que, nessa faixa etária de 40 a 52 anos, a maioria das mulheres já encerrou seu ciclo reprodutivo.

¿ A ameaça é menor para a empresa, que, então, paga mais por isso. A prática fica evidente porque as diferenças ocorrem no valor do salário pago por hora ¿ analisa Neri, lembrando que o número de filhos por mulher caiu de seis, nos anos 70, para dois, em 2003, conforme a Pnad.

A designer Adriana Maurício Carvalho, de 39 anos, está entre as que pretendem reduzir a jornada quando sua licença-maternidade terminar. Professora de uma escola técnica e de uma faculdade, Adriana estava acostumada a uma rotina pesada, com turmas das 7h às 23h. Agora, pensa em trabalhar apenas três vezes por semana, em que a ajuda da empregada diarista soma-se à da babá nos cuidados com Pedro, de 2 anos, e Giovana, de três meses.

¿ Pagar uma boa creche é muito caro ¿ afirma ela.