Título: CEDAE PODERÁ TER AÇÕES NEGOCIADAS NA BOLSA
Autor: Mariza Louven e Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 15/10/2005, Economia, p. 34
Reavaliação de ativos, feita pela FGV, transformará em positivo o patrimônio líquido negativo de R$1,9 bilhão
Depois conviver anos com elevados déficit e patrimônio negativo, a Companhia Estadual de Águas e Esgotos (Cedae) conclui este ano o processo de saneamento financeiro que viabilizará a sua capitalização, inclusive por meio da venda de ações em Bolsa de Valores. A empresa teve lucro líquido de R$14 milhões de janeiro a junho e contratou a Fundação Getúlio Vargas (FGV) para reavaliar os seus ativos a tempo de transformar o passivo atual, de R$1,9 bilhão, em patrimônio líquido positivo ainda no balanço de 2005.
¿ O objetivo é deixar a empresa redonda, capaz de buscar recursos no mercado ¿ afirma o presidente da Cedae, Lutero de Castro Cardoso.
Segundo ele, a privatização não é a melhor solução para a Cedae, que poderá buscar recursos no mercado financeiro e de capitais.
O diretor superintendente da FGV Projetos, Cesar Campos, explica que já foi concluída a reavaliação e a regularização de 265 imóveis, avaliados em R$2 bilhões, montante capaz de tirar do vermelho o patrimônio da Cedae.
Outros 1.500 imóveis terão seus valores atualizados
A FGV vai atualizar a situação de outros 1.500 imóveis até março de 2006, a tempo de incluir os dados no balanço de 2005 da Cedae. Segundo Lutero, o patrimônio líquido da empresa saltará para cerca de R$10 bilhões, mas Campos prefere não fazer previsões antes de terminar o trabalho.
¿ A Cedae tem imóveis construídos na época do Império, como o da Ladeira de São Bento número 1, no Centro ¿ acrescenta Campos.
A economista da FGV e coordenadora do projeto, Rosane Coelho, acrescenta que a Cedae está em processo de modernização semelhante ao da Sabesp. A empresa paulista é apontada por analistas como exemplo de companhia de saneamento que fez uma reestruturação financeira de sucesso e, hoje, tem ações em bolsa.
Clientes insatisfeitos com tarifas e atrasos na medição
A Cedae vem amargando resultados negativos nos últimos anos, que começam a mudar de sinal. O prejuízo de R$500 milhões, em 2003, passou a R$116 milhões negativos, em 2004, e a um lucro de R$14 milhões no primeiro semestre deste ano. Entre as medidas adotadas estão a implantação de um sistema único de dados, transformação de superintendências em unidades de negócios e instalação de 98 mil hidrômetros.
Cardoso afirma que a empresa também saiu do topo da lista de reclamações do Procon, mas o banco de dados da seção de Defesa do Consumidor do GLOBO registrou 227 reclamações de janeiro a setembro deste ano, apenas 2,16% menos que no mesmo período de 2004.
O síndico de um condomínio residencial de Laranjeiras, José Ogidio Ribeiro, reclama dos preços e dos atrasos na medição, que acabam provocando mudança de faixa de consumo e elevação dos valores a pagar. Segundo Cardoso, a leitura informatizada já foi implantada em 450 mil clientes e tornará os valores mais precisos.
O aumento das tarifas, de 165% de 1999 a 2005, acima da média nacional, é explicado pelo custo operacional alto: a rede é velha e em parte obsoleta. Além disso, pesam as despesas com os sete mil funcionários, de R$40 milhões por mês. Para Cardoso, elas poderiam ser reduzidas se a empresa tivesse conseguido quebrar a estabilidade, conforme proposto este ano.