Título: A voz do temor da classe média
Autor: Janaina Figueiredo
Fonte: O Globo, 15/10/2005, O Mundo, p. 38

CARACAS. Ele trabalhou em empresas como a Polar (fabricante de alimentos mais importante da Venezuela) e Gatorade, mas há cinco anos dirige um táxi pelas movimentadas ruas da capital venezuelana. Wilfredo Urdaneta, de 44 anos, é um típico representante da classe média venezuelana, castigada pela recessão econômica e marginada dos programas sociais do governo Chávez.

¿ Somos o queijo do sanduíche. Não temos o dinheiro dos ricos nem o apoio que o governo dá aos pobres. Estamos no pior dos mundos ¿ lamentou Wilfredo, que antes de criticar o governo examina cuidadosamente cada passageiro, para evitar incidentes.

¿ Semana passada uma mulher me bateu quando eu disse que era antichavista. Ela começou a gritar, fez um escândalo. Agora fico quieto, não quero mais problemas ¿ contou Wilfredo, formado em marketing e dono de um pequeno apartamento em Caracas.

Desde que foi demitido de seu último emprego com carteira assinada, este simpático venezuelano nunca mais conseguiu retornar ao mercado formal de trabalho.

¿ Hoje não tem emprego para ninguém, as empresas não estão investindo, a coisa tá feia. E a idade também não ajuda ¿ disse Wilfredo.

Ele, como muitos venezuelanos, não se sente identificado com o governo Chávez. Um de seus principais temores é de que a Venezuela termine implementado um modelo econômico comunista, similar ao aplicado em Cuba.

¿ Estamos assustados. Tenho um irmão que tem quatro apartamentos e já está pensando em vender todos ¿ afirmou Wilfredo.

Segundo ele, desde que Chávez assumiu o poder, a única medida positiva de seu governo foi o congelamento do preço da gasolina.

Com US$2 você enche o tanque e ainda sobra. Temos petróleo para dar e vender ¿ brincou o taxista venezuelano. (J.F.)