Título: JUSTIÇA E CPI
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 17/10/2005, O GLOBO, p. 2

A CPI dos Correios vai passar para a história pelo rito sumário que adotou ao julgar 18 deputados que estão respondendo a processo no Conselho de Ética da Câmara. Seus integrantes, associados aos membros da CPI do Mensalão, mandaram 18 deputados para o corredor da morte sem ter concluído a investigação. Este é um fato inédito em CPIs que investigam a atividade dos parlamentares.

Os membros da CPI dos Correios não analisaram, individualmente, a participação de cada parlamentar no esquema financeiro montado pelo empresário Marcos Valério. Tivesse a CPI do Orçamento, em 1993, adotado o mesmo procedimento, alguns parlamentares da oposição não estariam agora participando da história. Entre os eventuais ausentes o líder da Minoria, José Carlos Aleluia (PFL-BA), o senador Sérgio Guerra (PSDB-PE) e Roberto Jefferson.

Mas os integrantes da CPI do Orçamento não abdicaram de seu dever e chamaram para si a tarefa de culpar ou inocentar os investigados. Ao final de seus trabalhos foi sugerida a abertura de processo de cassação do mandato de 17 deputados e um senador. O caso de outros 11 deputados foi encaminhado para que o Ministério Público fizesse uma investigação mais ampla. Entre esses estavam Jefferson e Aleluia, este beneficiado pelo estranho sumiço dos documentos sobre sua movimentação bancária. A CPI inocentou oito deputados, entre os quais Guerra, e seis senadores, entre eles o ex-presidente do PSDB, o senador Teotônio Vilela (AL).

Tivesse a CPI dos Correios agido de forma judiciosa talvez não tivesse incluído alguns nomes em seu relatório. É evidente, por exemplo, que o deputado Roberto Brant (PFL-MG) não tem qualquer relação com atos de corrupção que tenham sido praticados no atual governo. Por conveniência, a CPI acabou colocando no mesmo balaio caixa dois e suspeita de desvio de dinheiro público. Fruto disso, a comissão jogará luz, na quarta-feira, no funcionamento do valerioduto em 1998, na campanha do PSDB mineiro. O caso sugere, como agora, que houve desvio de dinheiro público para abastecer o caixa dois da campanha do senador Eduardo Azeredo, na época candidato à reeleição ao governo mineiro. Mas qual será a atitude da CPI? Nesse caso, o rito também será sumário? Ou será que, na ausência de clamor público, os integrantes da CPI vão abrir mão de investigar essa vertente do valerioduto?