Título: FUNDOS QUE PROTEGEM INVESTIMENTO INICIAL PODEM LIMITAR RENTABILIDADE
Autor: Patrcia Eloy
Fonte: O Globo, 17/10/2005, Economia, p. 16

Aplicações reduzem risco, mas também os ganhos com Bolsa e câmbio

Ganhar com a alta da Bolsa e manter capital investido mesmo em caso de perdas no mercado de ações pode parecer improvável e mesmo impossível, mas é exatamente essa a estratégia dos chamados fundos de capital protegido. Em alguns casos, no lugar da Bolsa, os gestores garantem que, nas aplicações lastreadas no dólar ¿ como ações, considerado um ativo de alto risco devido às grandes oscilações ¿ o investidor mantenha a aplicação inicial diante de eventuais perdas, embolsando apenas o lucro. Mas, há um preço e pode ser alto: o investidor abre mão de boa parte da rentabilidade em caso de valorização. Ou seja: se a Bolsa subir fortemente, apenas terá direito a uma pequena parcela desta alta. Na queda, porém, estará protegido de perdas.

O mecanismo é parecido com o do PIBB ¿ Papéis Índice Brasil Bovespa, que aplica em ações da carteira do BNDESPar e teve o período de captação encerrado na semana passada. No PIBB, ao contrário dos fundos, em caso de alta, o investidor tem 100% dos ganhos, mas fica protegido de eventuais perdas.

Maioria dos fundos tem prazo de carência

Bancos como Safra, Itaú, Citibank e Bradesco têm o produto, cuja taxa de administração é de cerca de 3%. Em geral, ao contrário dos fundos tradicionais, para garantir a proteção do principal, os gestores exigem que o investidor permaneça um período mínimo no fundo ¿ que varia de 60 dias a três meses.

No prazo de carência, a maior parte dos recursos é aplicada em ativos de baixo risco, como renda fixa prefixada ou CDBs, de maneira a preservar o principal. Apenas uma pequena parcela é destinada à Bolsa ou ao câmbio, por isso, o investidor tem ganhos limitados em caso de valorização.

¿ O preço que o investidor paga pela segurança de não perder o dinheiro aplicado inicialmente é não obter o rendimento integral da Bolsa. Não há mágica para garantirmos o principal: o risco cai, mas o ganho também ¿ analisa Moacyr Castanho, superintendente de Fundos de Investimento do Itaú.

De acordo com o executivo, já que o fundo aplica em Bolsa e tem um prazo de carência de três meses, só é recomendado a investidores com perspectiva de ganhos a longo prazo.

Na linha investimento garantido, o Santander Banespa lançou o fundo Multi Retorno Mais, o primeiro multimercado ¿ categoria que pode aplicar em Bolsa, juros, câmbio e títulos da dívida do governo ¿ no mercado a lançar mão de um seguro para assegurar que o investidor receba, no mínimo, a variação da poupança. O fundo, lançado pela primeira vez em outubro do ano passado, encerrou há duas semanas um novo período de captação ¿ em que levantou R$500 milhões ¿ e tem prazo de carência maior: 24 meses.

¿ O investidor, na verdade, pode resgatar antes desse período, mas está sujeito a eventuais perdas ¿ explica Edvaldo Morata, diretor-executivo do Santander Banespa Asset.

Analistas recomendam os fundos de ações

Mas, o economista Marcelo D¿Agosto, autor do livro ¿Como escolher o melhor fundo de investimento¿, alerta: apesar da garantia, na maioria dos casos, a Bolsa ¿ ou o dólar ¿ precisa subir muito para que o fundo supere o CDI, referência para aplicações financeiras:

¿ Como só uma parcela mínima do fundo é aplicada em ativos de risco, que podem turbinar os ganhos, o investidor acaba tendo um ganho que não compensa. Embora a garantia pareça opção interessante para quem, por exemplo, deixou de aplicar no PIBB, é melhor aplicar parte pequena da poupança num fundo de ações, por exemplo, onde, se por um lado, o aplicador corre risco de perder dinheiro, por outro, terá direito a todo o ganho.

Essa também é a opinião do consultor de investimentos Fábio Colombo:

¿ Não recomendo esses fundos: o investidor paga taxas de administração altas e acaba ganhando pouco.