Título: BOLSA CAI 3,88% POR INFLAÇÃO NOS EUA
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 19/10/2005, Economia, p. 24

Expectativa de queda da Selic faz fundos DI terem resgates de R$782 milhões

O temor de uma aceleração no ritmo de alta dos juros dos Estados Unidos, com a divulgação de que a inflação naquele país ficou acima do esperado em setembro, levou ontem a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) a uma queda de 3,88%. Nos últimos meses, os baixos juros americanos ¿ em torno de 4% ¿ levaram os investidores internacionais a buscar ganhos maiores em ativos de mercados emergentes como o Brasil, o que elevou a Bovespa e os títulos da dívida externa a recordes seguidos.

O índice de preços no atacado dos EUA avançou 1,9% em setembro devido a um salto dos custos de energia, ante uma expectativa de alta de 1,1% dos analistas do mercado financeiro. Foi também a maior variação de preços em 15 anos (desde janeiro de 1990). Com a inflação mais alta, aumentaram as especulações em torno de novas elevações nos juros americanos, o que poderia reduzir o fluxo de recursos para emergentes. Ontem, foi o suficiente para que estrangeiros e brasileiros batessem em retirada da Bolsa.

Os comentários de integrantes do Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) não ajudaram. A presidente do Federal Reserve de São Francisco, Janet Yellen, afirmou que, embora a perspectiva para o núcleo da inflação americana (excluindo as variações de petróleo e alimentação) ¿ que subiu 0,3% em setembro, acima da expectativa de 0,2% ¿ pareça favorável a médio prazo, seriam necessárias ¿políticas apropriadas¿ para conter uma eventual alta dos preços.

Dólar fecha em alta de 0,18%, cotado a R$2,242

O risco-Brasil subiu 1,07%, para 377 pontos centesimais, e o Global 40, título brasileiro mais negociado no mercado internacional, caiu 0,35%, cotado a 118,73% do valor de face. Já o dólar fechou em ligeira alta: de 0,18%, a R$2,242. O Banco Central (BC) voltou a comprar moeda, a R$2,240, pouco abaixo da cotação de mercado, mas não chegou a causar impacto sobre as cotações.

Os fundos de renda fixa ¿ que lucram num cenário de queda de juros ¿ captaram R$102,44 milhões apenas na semana passada, enquanto os tradicionais DI ¿ que acompanham a oscilação das taxas, seja para cima ou para baixo ¿ registraram resgates de R$200,5 milhões no mesmo período, segundo dados do site Fortuna, que monitora a indústria de fundos.

Nos últimos 30 dias, os fundos DI tiveram captação líquida (depósitos menos retiradas) negativa de R$782 milhões. Enquanto isso, os fundos de renda fixa atraíram R$821 milhões em novos recursos.

As estimativas do mercado de um novo corte na taxa básica de juros (Selic) têm impulsionado a captação dos fundos de renda fixa, que, com a Selic mais baixa, passarão a ganhar dos DI em rentabilidade. Os economistas projetam cortes de 0,5 ponto percentual, o que levaria a taxa para 19% ao ano. No entanto, os contratos de projeções de juros negociados na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F) não indicam corte superior a 0,25 ponto, com a Selic a 19,25% ao ano. (Patricia Eloy, com agências internacionais)