Título: DESCULPAS E VERSÕES QUE NÃO CONVENCERAM
Autor: Isabel Braga, Maria Lima e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 18/10/2005, O País, p. 3
BRASÍLIA. Com péssima oratória mas bom de conversas e articulação de bastidores, Paulo Rocha, paraense amigo do presidente Lula, ex-líder da bancada petista, foi abatido pelo escândalo do mensalão em pleno vôo rumo ao governo do estado. Em seu quarto mandato de deputado federal, líder do PT na Câmara e presidente do diretório nacional, desfrutava do seu melhor momento junto à cúpula petista quando foram descobertos os saques do valerioduto. Foram R$920 mil, que ele diz ter usado para custear despesas do PT no estado.
Os saques foram feitos pela assessora Anita Leocádia. Sua reação para justificar a presença da funcionária no shopping onde fica o Banco Rural foi dizer que ela fora fazer exames numa clínica neurológica.
O primeiro baque foi a renúncia à liderança da bancada. Os próprios petistas criticaram sua demora a dar explicações plausíveis sobre o uso do dinheiro. Ele diz que recebeu apenas R$470 mil e apresentou notas de empresas e empresários que teriam sido pagos com os recursos do valerioduto.
Trabalhador gráfico, destacou-se no sindicalismo quando assumiu a presidência do Sindicato dos Gráficos do Pará, em 1970. Um dos fundadores do PT no estado, foi considerado por quatro anos consecutivos pelo Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) um dos parlamentares mais atuantes, e incluído entre os melhores articuladores do Congresso Nacional.
Paulo Rocha é de uma família humilde, de 16 irmãos, e diz que ainda hoje mora de aluguel no Pará. Afirma que, renunciando, terá que procurar emprego. Em sua passagem pela Câmara propôs a PEC que tipifica como crime o trabalho escravo e a Lei 8.632/96, que anistia dirigentes sindicais demitidos e punidos pelos governos Collor e Sarney. De 2000 a 2002, foi terceiro-secretário da Mesa Diretora da Câmara dos Deputados.