Título: Ex-líderes fogem de processo
Autor: Isabel Braga, Maria Lima e Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 18/10/2005, O País, p. 3

Paulo Rocha (PT) e José Borba (PMDB) renunciam; Conselho abre investigação contra 11

Quando faltavam poucos minutos para o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), abrir os processos por quebra de decoro contra 13 deputados, os ex-líderes do PT Paulo Rocha (PA) e do PMDB José Borba (PR) encaminharam ontem à Mesa suas cartas de renúncia ao mandato. Com isso, eles fogem do processo de cassação mas preservam os direitos políticos, podendo disputar a eleição de 2006. Confiantes no corporativismo para se livrar da cassação em plenário, os outros 11 deputados envolvidos no escândalo do mensalão decidiram enfrentar o processo por quebra de decoro no Conselho.

O advogado Márcio Silva chegou a anunciar que, além de Paulo Rocha, o deputado José Mentor (PT-SP) também renunciaria. Uma hora antes do prazo, Mentor foi ao gabinete do presidente da Câmara, Aldo Rebelo, não para entregar a carta de renúncia, mas um laudo do perito Ricardo Molina atestando como verdadeiras notas fiscais referentes a serviços prestados como advogado a empresas de Marcos Valério. Além de Mentor, o deputado Josias Gomes (PT-BA) também desistiu de renunciar na última hora.

O ex-presidente João Paulo Cunha (PT-SP) e Professor Luizinho (PT-SP) chegaram a cogitar a renúncia mas não levaram a idéia adiante. João Magno (PT-MG) disse desde o início que renunciaria. Na hora do almoço João Paulo chegou a ir à casa do líder do PP, José Janene (PR), quando foi informado de que os pepistas não renunciariam. Ele avisou isso em almoço na casa de Paulo Rocha.

¿ Estou convencido de que minha defesa pode surtir efeito na Casa, mesmo sendo um julgamento político. Vou passar pelo plenário e vou ao povo ¿ disse João Paulo.

Professor Luizinho disse acreditar que seu caso nem irá ao plenário:

¿ Eu confio no senso de justiça do Conselho. Lá será julgado caso a caso e não vai precisar ir ao plenário. O Paulo Rocha tem seus motivos, estaria envolvido em caixa dois. No meu caso, foi a luta política que me levou ao Conselho.

¿O problema é que renunciei sozinho¿

Isolado na decisão de renunciar, Paulo Rocha lamentou:

¿ O problema é que renunciei sozinho...

Mais cedo, José Mentor mostrava-se em dúvida sobre a renúncia:

¿ A renúncia muitas vezes, para a sociedade, tem o peso da culpa. E a cassação muitas vezes é injustiça.

Mas Mentor acabou optando por enfrentar o processo, confiante que provará que não se beneficiou de caixa dois, mas de ¿caixa um¿. Segundo ele até agora há em curso um linchamento político, mas ele espera que os deputados reflitam. E acha que voltará ano que vem.

¿ Eu vou disputar porque não serei cassado ¿ afirmou Mentor.

Durante o dia, os contatos foram intensos entre os cassáveis. José Borba almoçou com Pedro Corrêa no apartamento de Janene. O líder do PP tentou convencer Borba a não renunciar. Só às 17h35m o peemedebista autorizou seu advogado, Roberto Bertholdo, a entregar a carta de renúncia:

¿ Já existe uma decisão política pela cassação de todo mundo. Não tinha mais o que fazer.

Borba também falou ao telefone diversas vezes com os deputados petistas. João Paulo Cunha disse que havia sido convencido a não renunciar e que Professor Luizinho acompanharia sua decisão. Até aquele momento, além de Paulo Rocha, José Mentor e Josias Gomes estavam dispostos a renunciar. Luizinho se irritou quando perguntado por uma jornalista se havia acertado isso com o presidente Lula:

¿ Não conversei com ninguém... E não adianta vir com essa vozinha mais doce ou menos doce que não vou dizer com quem conversei... ¿ respondeu de forma grosseira.