Título: AÇÕES DE FABRICANTE DE ARMAS SOBEM 17,30%
Autor: Patrcia Eloy e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 18/10/2005, O País, p. 15

Papéis da Taurus foram os segundos mais negociados ontem; delegado da PF defende mais rigor para clubes de tiro

RIO e BRASÍLIA. As ações da fabricante de armas Forjas Taurus subiram fortemente ontem na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa): 17,30%, cotadas a R$1,22, ante uma valorização de apenas 1,58% da própria Bolsa. Foi a segunda ação mais negociada ontem.

Segundo analistas do mercado financeiro, a maioria de intenções de voto contra a proibição da venda de armas apurada em pesquisa do Ibope divulgada na última sexta-feira provocou um aumento na procura pelos papéis da Taurus. De acordo com a pesquisa, 49% dos eleitores estavam decididos a votar ¿Não¿ e 45% pretendiam votar ¿Sim¿ ¿ a favor da proibição. O resultado mostrou que a disputa estava no limite do empate técnico, já que a margem de erro da pesquisa era de 2,2 pontos percentuais.

As ações, que normalmente são pouco negociadas no mercado, com cerca de 40 operações diárias nos últimos meses, ontem registraram 232 negócios.

Há um erro de avaliação dos investidores, diz analista

Eduardo Mattos, analista de Renda Variável da Mercatto Gestão de Recursos, explica que o debate recente sobre o referendo da proibição do comércio de armas, marcado para o próximo domingo, despertou nos investidores o interesse pelos papéis, que vinham caindo fortemente desde abril.

¿ Está acontecendo um erro de avaliação dos investidores. Boa parte das vendas da Forjas Taurus é para o exterior e, no Brasil, para as maiores operações são no atacado, para a polícia. A parcela para o varejo é pequena, mas como a empresa pertence ao setor de armamento, acabou sendo beneficiada pela discussão recente ¿ avalia.

De setembro até ontem, as ações da empresa acumulam alta de 35,56%. No ano, porém, caem cerca de 6%.

Mais rigor para clubes de tiro

Em Brasília, o chefe do Serviço Nacional de Armas da Polícia Federal (Sinarm), Fernando Segovia, propôs ontem regras mais duras para adesão e fiscalização de clubes de tiro, caso o referendo de domingo confirme a proibição do comércio de armas. A proposta de Segovia tem como objetivo evitar que cidadãos comuns usem as facilidades asseguradas hoje aos clubes de tiro para driblar as restrições a posse, porte e uso de armas de fogo estabelecidas no Estatuto do Desarmamento.

A Polícia Federal percebeu que, com a ampliação dos debates sobre o desarmamento, o número de associados nos clubes de tiro cresceu muito. Seriam pessoas que estariam se antecipando às restrições previstas em lei se o ¿Sim¿ vencer o referendo. No início, o movimento foi encarado com naturalidade. Mas, como o inchaço dos clubes pareceu fora de controle, setores da PF e do Ministério da Justiça começaram a estudar medidas de contenção.

As sugestões do chefe do Sinarm tiveram boa aceitação no Ministério da Justiça.

¿ Se o "Sim" ganhar, temos que estabelecer normas mais rígidas para filiação em clubes de tiro ¿ diz Segóvia.

Uma das sugestões do delegado federal é que a adesão aos clubes seja condicionada às exigências estabelecidas no artigo IV, do Estatuto do Desarmamento. Entre os requisitos estão certidões negativas de antecedentes criminais fornecidas pelas Justiças Federal, Estadual, Militar e Eleitoral e comprovação de capacidade técnica e de aptidão psicológica para o manuseio de arma de fogo. Hoje, o ingresso em clubes de tiro depende, em geral, de um curso básico de segurança no uso de armas e do pagamento de uma taxa.

A PF também pretende aumentar a fiscalização dos clubes de tiro, tarefa que hoje cabe apenas ao Exército. Para Segovia, o modelo ideal é o da Inglaterra, onde os clubes de tiro são vigiados de perto por três instituições policiais.

Inglaterra proibiu o comércio de armas em 1995

A Inglaterra proibiu o comércio de armas em 1995 e, desde então, conseguiu reduzir o número de assassinatos por armas de fogo de 3.600 por ano para 2.500. Para o delegado, a fiscalização dos clubes também deveria estar sob a responsabilidade da PF.

As mudanças dependerão de um decreto do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, caso se confirme a proibição do comércio de armas.