Título: SEQÜESTROS DE OPERÁRIOS E AMEAÇAS A ENGENHEIROS
Autor: Fernanda Pontes
Fonte: O Globo, 18/10/2005, Rio, p. 16

Relatório diz que tráfico interfere no Favela-Bairro

Os técnicos do Tribunal de Contas do Município (TCM) que elaboraram o relatório apontando possíveis falhas no projeto Favela-Bairro descobriram que em algumas comunidades os traficantes interferiram nas obras com intimidações e até assassinatos. Os dados do relatório, que será votado amanhã, foram obtidos a partir de entrevistas com engenheiros e dirigentes de associações de moradores. Na comunidade Águia de Ouro, em Inhaúma, segundo o documento, o técnico de uma empreiteira e um líder comunitário foram assassinados pelo tráfico porque se recusaram a repassar parte das indenizações pagas.

No Morro Azevedo Lima, no Rio Comprido, o canteiro de obras onde seria construída uma creche foi incendiado após confrontos de facções rivais. No Parque Acari, o engenheiro da prefeitura teve que ser substituído. Ele recebeu ameaças do tráfico por afirmar que não poderia construir uma cobertura para abrigar a quadra onde o bloco de carnaval da comunidade costumava ensaiar.

Em outras favelas, cujos nomes não foram divulgados, engenheiros contaram que foram ameaçados por traficantes para executar obras que não eram previstas. Como forma de pressão, operários chegaram a ser seqüestrados.

O Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), em nota oficial sobre a reportagem do GLOBO de ontem sobre críticas do relatório do TCM ao Favela-Bairro, disse que o programa é de urbanização e não de contenção de favelas. Segundo a instituição, os técnicos do tribunal têm visão distinta dos especialistas em urbanismo do Brasil, que acreditam que a urbanização dos assentamentos precários é mais eficiente do que a remoção da população. O Banco afirma ainda que o problema da habitação é complexo e que, em seu ponto de vista, o programa ainda continua sendo um exemplo a ser replicado.