Título: Duas táticas
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 20/10/2005, O GLOBO, p. 2

Começa a ficar claro que o PT e o Palácio do Planalto não estão caminhando juntos no enfrentamento da atual crise. O ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, atua para que as CPIs concluam logo os seus trabalhos. Mas o PT estica a corda ao partir para o ataque contra o PSDB. Os tucanos reagem ameaçando convocar o filho e o irmão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O desgaste maior do PT, conforme as pesquisas de opinião, explica a diferença de postura. O presidente Lula já não está mais despencando nas pesquisas e seus principais assessores avaliam que o quadro político melhorou nas últimas semanas. Por isso, o ministro Jaques Wagner investe publicamente contra a tentativa da oposição de ampliar os fatos a serem investigados pelas três CPIs (Correios, Mensalão e Bingos). Sua preocupação não é a de cutucar o PSDB, mas de pacificar o ambiente para que tenha um paradeiro o clima de denuncismo. Para o Planalto, a hora é de virar a página e abrir a agenda para tratar dos temas econômicos e sociais.

Mas para o PT não é assim. Com sua reputação abalada, conforme atestam as pesquisas, o partido quer ir à forra contra os tucanos. A partir do depoimento de Claudio Mourão, tesoureiro da campanha do presidente do PSDB, Eduardo Azeredo, em 1998, os petistas vão pressionar para que Azeredo e o ex-líder do PSDB, Custódio Matos (MG), sejam submetidos a julgamento por quebra do decoro. Os petistas vão insistir também para que a CPI do Mensalão investigue a compra de votos para aprovar a emenda que permitiu a reeleição em 1997. Ontem, na comissão que investiga a liquidação de bancos ocorrida no governo passado, o ex-senador José Eduardo Andrade Vieira, perguntado pela senadora Ana Júlia Carepa (PT-PA), afirmou que houve caixa dois na campanha do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso em 1994. E repetiu a insinuação do presidente do PT, deputado Ricardo Berzoini (SP), sobre a atuação do ex-ministro da Fazenda Pedro Malan, nas liquidações dos bancos Nacional e Bamerindus.

Pode ser que no futuro prevaleça a turma do deixa disso, mas no momento o clima no PT é de guerra. Os aliados avaliam que os petistas estão reagindo com atraso. Entre os tucanos, que demonstraram até agora serem melhores de briga, a disposição é a de combater e levar a disputa até o fim. Eles dizem, com ironia, que quem mais perde quando há um conflito político é quem está no governo.