Título: FAVELIZAÇÃO DAS VIAS DA BARRA
Autor: Luiz Ernesto Magalhaes
Fonte: O Globo, 20/10/2005, Rio, p. 16

Segundo levantamento, há dez ocupações só na Avenida das Américas

Quem está no volante pode não reparar, mas as principais vias de acesso da Barra da Tijuca e do Recreio dos Bandeirantes também não escapam da favelização da cidade. Segundo um levantamento feito pelo gabinete do vereador Luiz Guaraná (PSDB), presidente da Comissão de Assuntos Urbanos da Câmara, há pelo menos 32 favelas instaladas ao longo de seis grandes estradas e avenidas da região, entre elas, as avenidas das Américas e Ayrton Senna.

Logo no início da Barra da Tijuca, na Avenida Armando Lombardi, sentido Barra, há as favelas Vila União e Dois Corações. A primeira já foi alvo de ações da prefeitura, mas ainda persiste. Uma loja chegou a ser derrubada na década de 90, mas o terreno continua ocupado.

¿ É uma área que deveria ser destinada a um parque público municipal ¿ afirma Guaraná.

Na Avenida das Américas, o levantamento constata dez comunidades, recentes como a invasão do parque Wet'n' Wild e mais antigas como a Restinga, na altura do Recreio Shopping, que já teve casas derrubadas durante as obras de duplicação da via. Em frente à Restinga, há a Vila Harmonia.

Na altura do Km 14,5 da Avenida das Américas, em direção ao Recreio, duas comunidades crescem escondidas, formando praticamente uma só: Beira do Rio e Pantanal. Há prédios de até quatro andares e até lojas de móveis. Para Guaraná, o crescimento destas favelas é preocupante porque elas estão na área reservada à Via 4, alternativa para o trânsito da região:

¿ Quando o trecho for efetivamente implantado para desafogar o trânsito, haverá dificuldade para se fazer as remoções necessárias.

Pedreiro foi morar na avenida para ficar perto de obra

Ainda na Avenida das Américas, no Km 11,5, onde estão condomínios de luxo como o Pedra de Itaúna e o Mansões, há a comunidade Barra América no lado oposto. No dia 21 de outubro de 1981, o pedreiro paraibano José Severino de Araújo construiu a primeira casa. Vinte e quatro anos depois, há 63.

¿ Vim de São João de Meriti para cá para ficar perto do trabalho. Era pedreiro de um prédio em construção na Avenida Sernambetiba ¿ conta.

Apesar de a favela estar cercada por muros instalados por proprietários de terrenos próximos, a favela cresce verticalmente. Para Juarez Fernandes, da Associação de Moradores da Barra América, são necessárias intervenções da prefeitura:

¿ Se a favela fosse urbanizada, seria muito mais fácil ter controle sobre novas construções verticais. Mas hoje sequer temos luz e esgoto.

Como é comum nas favelas da cidade, a Barra América está envolvida num imbróglio. O terreno pertence a Pasquale Mauro, mas, segundo sua assessoria de imprensa, foi doado à prefeitura para se tornar logradouro público. Os moradores lutam na Justiça para obter a posse do terreno por usucapião.

Para Delair Dumbrosck, presidente da Câmara Comunitária da Barra, as ocupações irregulares na Estrada do Itanhangá são especialmente graves. Hoje, segundo o levantamento, há nove comunidades ali.

¿ É muito preocupante hoje a favelização no Itanhangá. Lá, a Favela Tijuquinha cresce tanto que em pouco tempo vai se encontrar com Rio das Pedras ¿ diz Dumbrosck.