Título: CAMPO DE PETRÓLEO É COMPRADO ATÉ POR R$2 MIL
Autor: Juliana Rangel
Fonte: O Globo, 20/10/2005, Economia, p. 27

Em leilão para pequenos investidores, ANP arrecadou R$3 milhões, com ágio de 14.873%

Apesar de iniciantes em exploração e produção de petróleo ¿ havia até clínica de repouso e firma de programação visual ¿ as empresas que disputaram ontem campos maduros, na Sétima Rodada de leilões da Agência Nacional do Petróleo (ANP), jogaram pesado. Das 17 áreas oferecidas, 16 foram arrematadas pelos pequenos investidores e permitiram arrecadação de R$3.045.804 à ANP, enquanto o mínimo previsto era de R$20.341. O ágio alcançou 14.873%. Nos três dias de ofertas, que incluíram a venda de 251 blocos em áreas de exploração sem garantia de descobertas, foi obtida receita de R$1,088 bilhão, com promessa de investimento de mais R$1,86 bilhão.

Foi a primeira vez em que a ANP ofereceu áreas com descobertas de petróleo já comprovadas, o que resultou em 91 empresas habilitadas, das quais 54 fizeram ofertas. Os preços mínimos variavam de R$1 mil a R$3 mil. O campo mais barato foi comprado por R$2.001 pela Petrolab, de produtos químicos, cujo principal cliente é a Petrobras.

James Correia, consultor da Erg Participações e ex-coordenador do mestrado de Energia da Universidade de Salvador, juntou-se a um ex-aluno e formou o consórcio responsável pelo maior lance (R$710.999), pelo campo de Morro do Barro, em Camamu (BA). Eles se comprometeram a investir R$14 milhões na área nos próximos anos, que tem cerca de 86 milhões de metros cúbicos de gás em reservas, segundo a ANP.

¿ Nossos estudos mostram que o potencial de gás é ainda maior ¿ disse Correia.

Com um preço mínimo de R$3 mil, o campo de Araçás Leste (Recôncavo), foi arrematado por R$401 mil pela construtora mineira Egesa Engenharia, que prevê investir R$2,4 milhões nos próximos três anos antes de ter lucro. A Sinalmig (programação visual e sinalização de trânsito) arrematou o campo de Rio Una, no Recôncavo, por R$51.133, no qual investirá R$800 mil.

ANP: pode haver outra rodada em cinco meses

Outro estreante foi Carlos Foster, marido da ex-secretária de Petróleo e Gás Natural do Ministério de Minas e Energia (MME) e atual presidente da Petroquisa, Maria das Graças Foster. Sua empresa, a C. Foster, levou dois campos em Sergipe, cada um por R$10 mil, com estimativa de investimento total de R$1,270 milhão.

Uma das companhias que mais despertou curiosidade, a Clínica de Repouso São Marcelo, fez ofertas por cinco campos, em parceria com a Engepet, mas perdeu todos.

Para Paulo Ernesto de Moraes, sócio da distribuidora Ale Combustíveis ¿ que ficou com dois campos, nos quais investirá R$15 milhões ¿ o leilão foi uma oportunidade para empresas de outros segmentos entrarem no mercado de exploração e produção.

Investigada por adulteração de combustíveis e acusada de sonegar R$500 milhões em São Paulo, a distribuidora Alcom levou o campo de Jacarandá, no Recôncavo. A Petrobras ficou com 96 blocos.

¿ Foram arrematados 20% dos blocos oferecidos, em comparação à média mundial de 10% a 12% ¿ disse Haroldo Lima, confirmado ontem como diretor-geral da ANP, acrescentando que pode haver outra rodada, em quatro ou cinco meses, de campos com pequenas acumulações de petróleo.