Título: UM ELO ENTRE TRAGÉDIAS CLIMÁTICAS
Autor:
Fonte: O Globo, 20/10/2005, O Mundo, p. 32

Inpe registra perda de ozônio e estuda sua associação com aquecimento

Especialistas do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) que fazem medições em Punta Arenas, no Chile, estudam a relação e as possíveis conseqüências da interação de dois fenômenos ambientais que ameaçam o planeta: a redução da camada de ozônio e o aquecimento global.

Embora diversos na origem ¿ a camada de ozônio é destruída pela emissão de gases CFCs, enquanto o aquecimento é provocado, em grande parte, pelo acúmulo de CO2 ¿ os fenômenos podem vir a interagir, causando novos problemas.

¿ Devido ao quadro atual das mudanças climáticas e à complexidade da dinâmica atmosférica, existe a necessidade de sabermos as interações entre estes dois fenômenos e suas conseqüências futuras ¿ afirmou Neusa Paes Leme, coordenadora dos trabalhos de medição da camada de ozônio em Punta Arenas, no Chile.

A equipe do Inpe concluiu que a camada de ozônio sobre a região apresentou uma redução de aproximadamente 50%, a pior já registrada desde 1995 na região.

¿ Em matéria de redução total sobre a Antártica, está semelhante a 2003 que foi a segunda maior depois de 2000. Mas este ano tivemos algumas particularidades: foi medida sobre o Pólo Sul, em 17 de setembro, a destruição de 100% da camada ¿ contou Neusa. ¿ Estas variações são esperadas pois dependem de processos dinâmicos da atmosfera, como variações da temperatura, da meteorologia. Enfim, é exatamente isto que agora pretendemos estudar melhor.

Uma das mais sérias conseqüências do chamado buraco da camada de ozônio é o aumento da radiação solar do tipo UV-B, nociva para os seres humanos. Os pesquisadores em Punta Arenas registraram um índice 5 de radiação num dia parcialmente nublado, o que representa uma elevação de 120% em relação ao índice médio observado em condições normais.

A expectativa em relação à recuperação da camada de ozônio entretanto é bem mais otimista do que a do aquecimento global, uma vez que o uso dos CFCs foi banido.

¿ Precisamos lembrar que os CFCs que produzem o buraco na camada de ozônio ainda estarão presentes por mais de 80 anos ¿ apontou Neusa. ¿ Acredita-se que estamos no máximo da destruição, que iremos oscilar alguns anos em torno deste valor mínimo, mas que, aos poucos a tendência seria de recuperação. Talvez em 50 anos a camada esteja recuperada, se nenhum fato novo acontecer.