Título: 'A mulher deve ter o direito de decidir¿
Autor: Rodrigo Rangel e Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 08/11/2004, O país, p. 3

A psicóloga Rosângela Aparecida Talib, doutora em ciências da religião, milita na ONG Católicas pelo Direito de Decidir, que debate temas ligados à sexualidade humana, à reprodução e à religião. A entidade, que participou da audiência no STF sobre o aborto de anencéfalos, é a favor do direito da mãe de interromper a gravidez.

Por que a ONG Católicas pelo Direito de Decidir é favorável ao aborto de anencéfalos?

ROSÂNGELA APARECIDA TALIB: Porque a mulher deve ter o direito de decidir interromper ou não a gestação quando sabe que o feto não terá sobrevida.

A gravidez de um feto anencéfalo representa algum risco para a mulher?

ROSÂNGELA: Acima de tudo há uma grande seqüela psicológica para a gestante. Ela não precisa levar uma gravidez de um feto anencéfalo até o fim se não quiser. E também consideramos que, se a mulher, mesmo sabendo que o feto morrerá em seguida ao parto, quiser manter a gestação, deverá ter toda a assistência médica e psicológica por parte do Estado.

Como a entidade está se mobilizando para o debate no STF?

ROSÂNGELA: Quando o ministro Marco Aurélio concedeu a liminar autorizando o aborto de anencéfalos, a CNBB recorreu à Justiça, usando um instrumento que pede que o requerente seja ouvido sobre determinada questão. Usamos o mesmo recurso. O ministro, então, fez uma audiência pública, reunindo grupos favoráveis e contrários ao aborto de anencéfalos. Agora haverá outra audiência, desta vez no plenário do Supremo. O foco da discussão deve ser a autonomia da mulher numa situação assim.