Título: Polêmica provoca briga no STF
Autor: Rodrigo Rangel e Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 08/11/2004, O país, p. 3

Eles se sentam frente a frente em pelo menos dois dias da semana, nas sessões plenárias, e dividem a mesma mesa de refeições nos intervalos. Ainda assim, os ministros Marco Aurélio de Mello e Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal (STF), recusam-se a trocar uma palavra sequer. A relação entre os dois, que nunca foi das melhores, piorou no dia 20 de outubro, justamente durante uma sessão para discutir a liminar concedida por Marco Aurélio permitindo que mulheres grávidas de bebês sem cérebro pudessem abortar.

Barbosa afirmou que o assunto era muito polêmico para Marco Aurélio decidir sozinho, com liminar. Marco Aurélio disse que aquele ¿tipo de agressão¿ deveria ser decidido fora do Supremo.

¿ Vamos deixar a agressividade de lado. Com agressividade, discuto em outro campo, fora do tribunal ¿ respondeu o ministro.

Depois, foi ainda mais incisivo:

¿ Não estamos nos séculos XVI, XVII, ou XVIII, em que havia duelo. Se estivéssemos, certamente teríamos um duelo.

As rusgas deixaram carregado o clima entre os 11 ministros da mais alta corte do Judiciário:

¿ Fica esquisito. Os dois nem se olham. Um age como se o outro não estivesse ali ¿ confidenciou um dos magistrados.

Os desentendimentos começaram em maio, quando Marco Aurélio e Barbosa trocaram farpas a respeito do julgamento de um hábeas-corpus pedido pelo advogado Carlos Alberto da Costa e Silva, acusado de participar do esquema de comércio de sentenças judiciais desvendado pela Operação Anaconda. Marco Aurélio soltou o réu. Barbosa, o relator sorteado, reclamou porque queria ter decidido a questão e revogar o hábeas-corpus do colega.

A esperança para uma possível conciliação está em Carlos Ayres Britto, nomeado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva junto com Barbosa. Conhecido como ¿o ministro da paz¿, ele aconselha ambos a deixarem a raiva de lado. Barbosa parece mais aberto ¿ afinal, é novo na casa e precisa se entrosar. Mas Marco Aurélio não demonstra ânimo em relevar.

¿ Acho difícil que eles voltem a se falar por agora ¿ lamentou um ministro