Título: IZAR: 'EXISTE INEQUÍVOCA CONSPIRAÇÃO'
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 21/10/2005, O País, p. 9

'Como diz o povo, o apressado geralmente queima a língua', reage Dirceu

BRASÍLIA. Os sucessivos recursos dos petistas ao Supremo Tribunal Federal (STF), à Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e à Mesa da Câmara para tentar postergar a tramitação dos processos disciplinares na Casa culminaram ontem num duelo de notas e acusações entre o presidente do Conselho de Ética, Ricardo Izar (PTB-SP), e o deputado José Dirceu (PT-SP).

Irritado com o parecer do deputado Darci Coelho (PP-TO), na CCJ, favorável à suspensão do processo de Dirceu, e com a decisão da Mesa de atrasar a votação no conselho, Izar divulgou nota acusando a existência de uma conspiração.

"Existe uma inequívoca conspiração envolvendo alguns deputados, objetivando protelar o julgamento de ações atentatórias ao decoro parlamentar", acusou Izar em nota.

Algumas horas mais tarde, Dirceu reagiu, com outra nota, sugerindo que Izar estaria falando demais e tentando atropelar os prazos e o rito regimental. "Como diz o povo, o apressado geralmente queima a língua", disse Dirceu em sua nota.

Izar disse que o STF, com a decisão de rejeitar o recurso de Dirceu, demonstrou que não está disposto a "dar guarida a tais manobras". Mas lembrou que existem em curso duas ações com o objetivo de postergar os julgamentos. Izar disse que o parecer de Coelho tem "viés jurídico discutível e viés político explícito".

"O Conselho de Ética deixa bastante claro que para cada ação protelatória haverá uma reação enérgica em sentido contrário: estaremos dispostos a trabalhar inclusive aos sábados e domingos no sentido de concluir os processos até o dia 20 de dezembro", disse Izar em sua nota.

Em resposta, Dirceu disse que o "comportamento açodado" de Izar, como condutor dos processos disciplinares contra deputados, pode comprometer a legitimidade das eventuais punições: "O compromisso do Conselho de Ética é, acima de tudo, com a justiça e não com extratos da sociedade. Ao optar pelo calendário e a angústia da imprensa, o presidente do Conselho de Ética pode atropelar normas fundamentais do direito, que podem ser questionadas em foros apropriados, tendo como resultado o prejuízo dos trabalhos, com anulação de decisões (...).

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