Título: Palocci analisa crise com Serra
Autor: Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 21/10/2005, O País, p. 12
Ministro procura oposicionistas ouvidos por agências de classificação de risco
BRASÍLIA. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recebeu ontem em sua casa o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). O encontro faz parte de uma estratégia do ministro de conversar com políticos de oposição sobre avaliações que eles poderiam fazer para agências de classificação de risco. O objetivo de Palocci é atuar preventivamente para tranqüilizar o mercado internacional sobre o ambiente político no Brasil.
Palocci quer tranqüilizar os investidores estrangeiros para evitar turbulência no próximo ano, quando haverá acirrada disputa eleitoral, e também influenciar na manutenção do risco-país em níveis mais baixos.
O encontro com Serra foi solicitado por Palocci. O ministro considera fundamental esclarecer aos mercados internacionais que, independentemente da crise política e do resultado eleitoral de 2006, a condução da economia não sofrerá abalos.
Palocci quer evitar o que ocorreu em 2002, quando o favoritismo de Lula provocou uma especulação financeira que fez o dólar disparar, o risco-país atingir a marca de 2.000 pontos e a Bolsa despencar.
Palocci designou o secretário de Tesouro, Joaquim Levy, para comandar a estratégia sobre as agências de classificação de risco. Ele preparou um relatório quadrimestral com uma avaliação detalhada de indicadores de cumprimento de metas. Mas, segundo assessores do governo, os números eram insuficientes para convencer o mercado internacional diante da crise política. A percepção no Planalto é de que os analistas internacionais estão muito mais preocupados hoje com o risco político do do que com a economia.
Serra não foi o único procurado até o momento. Na terça-feira, o líder da minoria na Câmara, José Carlos Aleluia (PFL-BA), esteve no Ministério da Fazenda, onde participou de uma videoconferência com analistas em Londres e Nova York, da agência de classificação de risco Standard & Poor's, uma das mais influentes do mundo.
Investidores temem adoção de medidas populistas
Os analistas internacionais deram sinais de que temem a eventual adoção de medidas populistas, com gasto excessivo de recursos do Tesouro no ano que vem, por causa da eleição. Os analistas também perguntaram sobre as chances de um impeachment do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Outro ponto discutido foi a possibilidade de uma mudança brusca na condução da política econômica com a derrota de Lula. Os analistas também mostraram interesse em saber quanto tempo ainda vai durar a crise.
- Interessa ao país uma percepção internacional de que não haverá turbulência na economia, independentemente dos acontecimentos políticos. O que aconteceu em 2002 não deve ser repetido - observou Aleluia.