Título: GOVERNO INVESTIGA SEIS FOCOS DE FEBRE AFTOSA
Autor: Paulo Yafusso/Geralda Doca
Fonte: O Globo, 21/10/2005, Economia, p. 25

Embargo já é feito por 41 países, quase todos os que compram carne do Brasil

BRASÍLIA e CAMPO GRANDE. Há seis suspeitas de focos de febre aftosa na região de Mato Grosso do Sul que abrange os municípios de Eldorado, Japorã, Iguatemi, Novo Mundo, Itaqueraí. Se os exames confirmarem a presença do vírus, o total de focos na área poderá chegar a dez. A informação foi divulgada ontem pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) e confirmada ao GLOBO por um técnico do Ministério da Agricultura que está trabalhando nas localidades atingidas. A ocorrência da doença fez com que praticamente todos os clientes do Brasil vetassem, total ou parcialmente, a compra de carnes nacionais.

O Ministério da Agricultura não quis comentar a nova suspeita. O secretário de Defesa Agropecuária, Gabriel Maciel, limitou-se a dizer que a suspeita de três focos que a assessoria da pasta divulgou segunda-feira não passou de "informação extra-oficial". Até agora, foram confirmados quatro casos: dois em Eldorado e dois em Japorã.

Na setor externo, a situação se agravou e o número de países que aderiram ao veto à carne brasileira subiu para 41, segundo o Ministério da Agricultura. Com isso, estão embargando o produto: Bolívia, Cingapura, Egito, Moçambique, Namíbia, Noruega, Paraguai, Peru, Ucrânia, Uruguai, África do Sul, Argentina, Chile, Cuba, Israel, Rússia e os 25 membros da União Européia (UE). A maioria dos embargos vale para carne bovina e suína, sendo que estes mercados representam mais de 90% das exportações brasileiras, segundo a Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiecs). Para o ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, a ampliação das restrições já era esperada:

- É a tendência, acontece. Pode haver um efeito dominó.

O governo federal decidiu ontem seguir a legislação e indenizar os produtores que tiveram animais abatidos devido à suspeita ou à confirmação de febre aftosa na região atingida. Segundo Rodrigues, a garantia foi dada pelo próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O ministro e o presidente se reuniram ontem com o governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT, e com a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Para cobrir os prejuízos dos pecuaristas, o estado pediu ao governo federal R$30 milhões, incluindo as indenizações e medidas de emergência, como instalação de barreiras, compra de veículos e gastos com combustível. Porém, ainda há divergência sobre o critério de pagamento. Enquanto Rodrigues dizia que serão indenizados apenas os produtores que vacinaram seus rebanhos, Zeca do PT afirmava que todos receberão o dinheiro. Mas Lula já determinou que vale o critério do ministro da Agricultura.

Com a suspensão parcial do embargo à carne de Mato Grosso do Sul pelo estado de São Paulo, os frigoríficos locais retomaram ontem os abates, exceto aqueles localizados na chamada zona tampão - os cinco municípios da região dos focos confirmados. As unidades estão trabalhando em média com 50% da sua capacidade. Mas Mato Grosso do Sul só poderá enviar para São Paulo carne desossada e maturada. A venda de boi gordo continua proibida.

(*) Especial para o GLOBO