Título: FURACÃO LEVA FLÓRIDA A ESTADO DE EMERGÊNCIA
Autor: José Meirelles Passos/Marcella Sobral
Fonte: O Globo, 21/10/2005, O Mundo, p. 31

Wilma deve chegar hoje ao México, obrigando turistas a deixar Cancún. Cuba retira 200 mil de zona de risco

MIAMI. Os moradores da Flórida estão habituados a furacões. Mas desta vez, à medida que mais um deles - Wilma - aproxima-se do seu território, os preparativos têm sido mais cuidadosos e intensos. A tragédia provocada recentemente pelo Katrina, no Mississippi e na Louisiana, agravada pela lentidão do governo federal para acudir as vítimas, está agora despertando receios mais agudos.

Apesar da intensidade do Wilma ter baixado da categoria 5 (máxima) para 4, na noite de quarta-feira, os temores permaneciam fortes no início da noite de ontem:

- Mesmo que o furacão chegue aqui com categoria 3 ou 4, há a possibilidade de um impacto como o do Katrina, com perda de vidas e muitos danos - disse Max Mayfield, diretor do Centro Nacional de Furacões.

Longas filas se formam em postos de gasolina

Embora o Wilma deva tocar a Flórida apenas no domingo, o governador Jeb Bush preferiu não esperar pelo impacto para declarar estado de emergência. Ele fez isso no início da tarde de ontem e, graças a essa iniciativa, agora tem o poder de convocar a Guarda Nacional no momento em que achar necessário.

A partir de hoje 4.500 soldados daquele contingente no estado estarão de plantão, assim como oito helicópteros. Nove grandes equipes de socorro também cuidavam dos últimos preparativos. Elas já haviam reunido ontem 150 caminhões com gelo e outros 30 com caixas de refeições prontas.

O processo de retirada de não-residentes da área conhecida como Florida Keys - ilhotas no sul do estado - estendeu-se ontem aos moradores da área. E o acesso a ela passou a ser restringido. Em várias cidades os residentes estocavam alimentos e água. Alguns preferiram partir para o norte, região que não deverá ser afetada.

O cônsul do Brasil na Flórida, João Almino, acionou um esquema de atendimento de emergência para atender os brasileiros residentes ou que estejam fazendo turismo na região. As instruções básicas foram colocadas no alto da página do consulado na internet (www.brazilmiami.org), onde também estão os números de telefones para casos de emergência.

- Em pouco mais de um ano em que estou aqui já enfrentamos oito furacões e nossos procedimentos funcionaram bem. Chegamos repatriar algumas pessoas - disse o diplomata ao GLOBO.

Havia filas longas em vários postos de gasolina ontem à tarde, com as pessoas enchendo não apenas o tanque de seus veículos como também recipientes para estocar em casa. As autoridades temem que isso possa criar um risco adicional: o de incêndios.

- Vocês devem preparar um estoque de alimentos, água, medicamentos e outros produtos necessários. Mas não devem guardar gasolina - disse o governador

Mais de 20 mil turistas deixam balneários mexicanos

No México e em Cuba, Wilma obrigou à retirada de milhares de pessoas. Com ventos de 240 quilômetros por hora, ele já provocou estragos antes mesmo de tocar a terra, matando pelo menos 11 pessoas no Haiti.

Wilma deve atingir hoje a Península de Yucatán e daí seguir pelo Golfo do México. Mesmo as camadas mais externas do furacão podem provocar tempestades no oeste de Cuba, nas Ilhas Cayman, no leste de Yucatán, em Belize e em Honduras.

As chuvas já atingiam ontem Cancún e outros balneários mexicanos, obrigando à remoção de 27 mil turistas e 30 mil moradores. Os serviços de meteorologia acreditam que o Wilma, que faz um trajeto lento e errático, pode tocar a terra no norte de Quintana Roo, atingindo possivelmente Cancún, a principal cidade turística da região.

- Este é um dos furacões mais destruidores - disse Félix González, governador de Quintana Roo. - Estamos em alerta máximo.

Cozumel, popular local de mergulho, também pode ser atingido, e os turistas receberam ordem de deixar a área. Muitos hotéis fecharam as portas, enquanto turistas disputavam passagens nos aeroportos. Outros visitantes trocavam hotéis de luxo por abrigos.

- Fomos retirados durante o Rita, ajudamos pessoas durante o Katrina e agora temos que deixar um lugar de novo. Não conseguimos nos livrar disso - reclamou a turista americana Lowanda Cole, num hotel de Cancún, enquanto esperava para ser removida.

Freqüentemente açoitada por furacões, Cuba já retirou mais de 200 mil pessoas da província de Pinar del Río, no oeste do país, que pode ser atingida no fim de semana. Outros 247 mil cubanos devem abandonar áreas sujeitas a inundação e prédios pouco seguros de Havana.

Das companhias aéreas que têm como destino cidades na rota do Wilma, só a United Airlines teve vôos cancelados. Nenhum partindo do Brasil, apenas conexões que têm como destino Cancún e Cidade do México, marcadas até o dia 22 de outubro, e, até o dia 24, os vôos para seis cidades da Flórida: Fort Lauderdale, Fort Myers, Miami, Orlando, Tampa e West Palm Beach.

COLABOROU Marcella Sobral

Com agências internacionais

www.oglobo.com.br/ciencia