Título: `GOSTARIA DE SER UM COLECIONADOR DE ARMAS¿
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 22/10/2005, O País, p. 10
Presidente do TSE diz que ainda não decidiu como votará amanhã e defende a realização de mais referendos
BRASÍLIA. Apesar de dizer que ainda não decidiu se vota contra ou a favor do comércio de armas e munição no referendo de amanhã, o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Velloso, admitiu que tem uma arma de fogo em casa e que cultiva certo apreço por ela. Diz até que gostaria de ser colecionador de armas. Velloso quer que temas polêmicos sejam assunto para um referendo a cada quatro anos no país. Ele sugere, por exemplo, que o direito ao aborto de fetos anencéfalos (sem cérebro) seja submetido a consulta popular.
O senhor tem arma de fogo?
CARLOS VELLOSO: Tenho uma arma em casa, que ganhei de presente há uns sete anos, dada por um colega magistrado. A arma está devidamente registrada. Por disposição legal, os magistrados têm direito a portar arma de defesa pessoal.
O senhor não tem medo de acontecer algum acidente com essa arma?
VELLOSO: Não, ela está bem guardada. Tenho muito cuidado com essas coisas.
O senhor já precisou usar essa arma?
VELLOSO: Não. Nunca precisei tirá-la de dentro de casa.
E qual é o motivo de o senhor mantê-la em casa?
VELLOSO: Eu gosto dela. Servi ao Exército e aprendi a manejar todo tipo de arma. Já fiz também cursos na Academia de Polícia Federal. Gostaria de ser um colecionador de armas.
O senhor vê beleza nas armas?
VELLOSO: Não é bem isso. Tem gente que coleciona caneta, outro coleciona lápis. Eu gostaria de colecionar armas. Meu pai era colecionador de armas. Nós morávamos numa região coberta de mata, próxima ao Vale do Rio Doce, e ele gostava de caçar. Naquela época, as pessoas caçavam até mesmo para se alimentar.
O senhor vai votar ¿Sim¿ ou ¿Não¿ no referendo?
VELLOSO: Isso eu não posso revelar.
Então o senhor já se decidiu...
VELLOSO: Quem sabe? Juiz, até o momento de votar, se considera indeciso, porque pode surgir uma questão nova. Um detalhe pode alterar às vezes. Sinceramente, nem sei como vou votar. Até o momento do voto, a gente fica avaliando uma e outra posição. O certo é que vou optar pela decisão que me pareça melhor para a sociedade.
O que o senhor achou do nível das campanhas das frentes parlamentares no rádio e na televisão?
VELLOSO: O nível foi muito bom. Ambas as frentes expuseram seus pontos de vista. Eu só não gostei quando ficavam interpretando questões polêmicas que ainda serão regulamentadas. A campanha do ¿Sim¿ chegou a afirmar que o uso das armas será permitido a pessoas que moram em locais distantes, como fazendas, por exemplo. Mas isso ainda terá de ser regulamentado se o comércio de armas for proibido pelo referendo.
O senhor considera esse referendo realmente necessário? Não é tarefa do poder público decidir sobre a proibição ou não do comércio de armas?
VELLOSO: Eu sou adepto dos referendos, porque se trata de um instrumento de democracia direta. É uma forma de o povo participar diretamente das decisões públicas. O ideal seria que outras disposições de lei fossem referendadas.
Que assuntos o senhor acha que poderiam ser submetidos a referendo?
VELLOSO: Os temas polêmicos de um modo geral. Por exemplo, se fosse aprovado pelo Congresso Nacional uma lei permitindo aborto em caso de gravidez de fetos anencéfalos (sem cérebro), acho que isso deveria ser referendado pela população brasileira.
O custo de um referendo é alto. O deste ano vai consumir R$270 milhões dos cofres públicos. De quanto em quanto tempo o senhor acha que o Brasil poderia arcar com esse tipo de votação?
VELLOSO: Acho que poderia haver um referendo a cada quatro anos, junto com as eleições municipais. Assim, os gastos seriam reduzidos, porque bastaria acrescentar a pergunta no final da escolha dos candidatos.