Título: Ponto final na crise
Autor: Gerson Camarotti e Jailton de Carvalho
Fonte: O Globo, 09/11/2004, O país, p. 3

Diante da crise entre o ex-ministro José Viegas e o comandante do Exército, general Francisco Albuquerque, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva considerou a solenidade de posse do vice José Alencar no Ministério da Defesa como o melhor desfecho para um impasse que poderia ter causado problema maior para o governo. Segundo um ministro, Lula saiu da solenidade com a sensação de que a situação foi contornada.

Lula já estaria convencido sobre a necessidade de substituir Albuquerque. Mas estaria analisando a melhor oportunidade para tirar o general do posto. Segundo autoridades ligadas ao vice-presidente, o governo ainda não encontrou uma fórmula ideal para resolver o problema, mas o mais provável é que Albuquerque deixe o cargo numa demissão coletiva com os comandantes da Marinha e da Aeronáutica, mais para a frente. Ontem à tarde, Alencar teve um encontro reservado com Albuquerque. O comandante entrou pela garagem e não quis conversar com os jornalistas.

Assessores do Planalto consideraram o discurso de Lula ontem um recado sobre a importância das Forças Armadas em seu governo, mas ao mesmo tempo de subordinação à autoridade civil. Depois da solenidade, Lula ficou ao lado de Alencar na fila de cumprimentos, numa clara demonstração de prestígio ao novo ministro da Defesa. No Palácio do Planalto, o clima foi de alívio com o desfecho da crise.

¿ A crise foi contornada. A presença de José Alencar na Defesa é uma demonstração clara de importância das Forças Armadas. Ao mesmo tempo, a nomeação do vice para a pasta concede ao Ministério da Defesa o tamanho mais elevado do que a dimensão civil ¿ analisou o deputado Paulo Delgado (PT-MG).

No auge da crise, desencadeada pela divulgação de fotos erroneamente identificadas como sendo do jornalista Vladimir Herzog sendo humilhado nos porões da ditadura, Lula foi aconselhado por alguns interlocutores a demitir imediatamente o general Albuquerque. O ex-ministro José Viegas chegou a pedir formalmente a saída do comandante do Exército.

Temendo ampliar a crise com a demissão de Albuquerque naquele momento, Lula preferiu fazer uma transição menos traumática. Agora, explicou um ministro, com a crise solucionada, Lula poderia cuidar da substituição no Exército sem desencadear reações contrárias. Ontem, Alencar evitou afirmar se iria manter os atuais comandantes das três Forças.

Viegas evitou comentar a crise que o levou a pedir demissão. Ontem, ele deixou de lado o tom belicoso da semana passada:

¿ Saio feliz. Sem mágoas! Estou contente ¿ disse o ex-ministro, que não confirmou sua indicação para a embaixada do Brasil em Madri:

¿ Quem decide é o ministro Celso Amorim.

No Planalto, ainda permanece o mal-estar em relação a Viegas. Mesmo assim, ele deve ir para Madri. Na conversa que teve com Lula, o ex-ministro tomou a iniciativa de pedir a transferência para a Espanha, o que deixou o presidente constrangido. Interlocutores de Lula consideram que ele não foi diplomático ao deixar o governo, já que saiu atirando quando era necessário botar panos quentes na crise.