Título: AFTOSA ATINGE O PARANÁ
Autor: Geralda Doca,
Fonte: O Globo, 22/10/2005, Economia, p. 27

Gado contaminado pode ter ido para outros estados. MS já tem dez focos

Osurto de febre aftosa em Mato Grosso do Sul saiu do controle. Ontem, o Paraná informou a suspeita da ocorrência de quatro focos da doença, nos municípios de Loanda, Amaporã, Maringá e Grandes Rios. Mas esse número poderá aumentar, segundo o presidente da Comissão de Agricultura da Câmara, deputado Ronaldo Caiado (PFL-GO), pois há animais com sintomas do mal em Londrina e Toledo. O vírus também está se alastrando na área interditada dentro de Mato Grosso do Sul: o Ministério da Agricultura confirmou ontem que há dez focos da doença no estado.

Em Mato Grosso do Sul, já são sete focos em Japorã, um em Mundo Novo e dois em Eldorado (onde foram detectados os primeiros animais contaminados). De acordo com o ministério, somente nessa região serão sacrificados 6.469 animais. Porém, numa área de dez quilômetros a partir dos focos de Japorã existem cerca de 400 propriedades, com um total de 14 mil animais, todos correndo risco de contaminação.

A disseminação da doença caiu como uma bomba no governo e no setor produtivo. O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, teria dito que o país está ¿numa guerra¿. Parte do gado contaminado no Paraná foi comprada em uma feira agropecuária em Londrina, no início do mês. Ao todo, 800 cabeças foram leiloadas e suspeita-se que algumas tenham sido compradas por fazendeiros de outros estados. Técnicos da pasta aguardavam ontem à noite informações do Paraná para rastrear esse gado.

Temor é que Rússia amplie embargo

A grande preocupação dos pecuaristas é que o aparecimento dos sintomas da doença no Paraná possa fazer com que a União Européia (UE) e a Rússia ¿ os principais compradores do produto brasileiro ¿ ampliem o embargo da carne para todo o país. Entre janeiro e setembro deste ano, os dois mercados foram responsáveis por importações de US$1,15 bilhão, de um total de US$2,2 bilhões.

Segundo o presidente do Fórum Permanente de Pecuária de Corte da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Antenor Nogueira, o risco de que UE e Rússia embarguem o produto de todo o país é muito grande.

Ao tomar conhecimento da suspeita de febre aftosa no Paraná, Rodrigues conversou com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff. Foi decidida a criação de um comitê interministerial com a participação de Casa Civil, Fazenda, Desenvolvimento Agrário, Justiça, Planejamento e Desenvolvimento, além da Agricultura. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, afirmou ontem que os recursos emergenciais para o combate à febre aftosa estão garantidos. Ele disse aguardar apenas o envio de dados da Agricultura para que o dinheiro seja liberado.

Até agora, o embargo da Rússia ficou restrito a Mato Grosso do Sul. Já a UE suspendeu as compras de três estados (São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul). O veto ao Paraná, no entanto, foi feito por causa da proximidade com o estado onde a doença reapareceu, e não por motivo de contaminação. Ao todo 41 países aderiram ao embargo internacional à carne brasileira.

Segundo o presidente da Associação das Indústrias Exportadoras de Carne (Abiec) e ex-ministro da Agricultura, Pratini de Moraes, o alastramento da doença mostra o descaso do governo com a prevenção.

A Secretaria da Agricultura e Abastecimento do Paraná investiga a suspeita dos quatro focos da doença no estado anunciados ontem. Técnicos vão examinar os animais de mais 39 fazendas. O gado comprado em Eldorado entrou no Paraná em 24 de setembro, para ser leiloado em Londrina.

¿ O leilão aconteceu no dia 4 e fui informado do foco em Mato Grosso do Sul no dia 10, quando tomamos medidas para rastrear os animais vendidos no leilão ¿ afirmou o secretário Orlando Pessuti.

O governo do Paraná enviou material para um laboratório em Belém para a realização de exame sorológico para confirmar a suspeita de febre aftosa no estado. O resultado deve sair até terça-feira.

¿ Vamos continuar com as barreiras sanitárias com Mato Grosso do Sul ¿ informou Pessuti.

Com o foco de febre aftosa no estado vizinho, o Paraná já perdeu 30 contratos de exportação, principalmente com países europeus.

Rio bloqueia carne do Paraná

No Rio de Janeiro, a entrada de carne, produtos e subprodutos de bovinos, caprinos, ovinos e suínos originários do Paraná está proibida a partir de hoje. A estimativa é de que o Paraná seja responsável por 20% do abastecimento desses produtos no mercado fluminense.

O governador do Rio Grande do Sul, Germano Rigotto, anunciou ontem o fechamento total das divisas para a movimentação de carne e derivados vindos de qualquer outro estado. Também está sendo estudada a antecipação da vacinação do gado gaúcho contra a aftosa.

As autoridades de Mato Grosso do Sul anunciaram que não vão mais esperar pelo resultado dos exames para sacrificar os animais infectados. O secretário de Produção e Turismo do Mato Grosso do Sul, Dagoberto Nogueira Filho, disse que os fazendeiros vão receber as indenizações logo que os animais forem sacrificados. O secretário afirmou que a decisão do juiz substituto de Eldorado, Alexandre Tsuyoshi Ito, não vai atrapalhar o serviço na região do foco. Ito determinou em liminar que fosse suspenso o sacrifício de cerca de 4 mil animais da fazenda Jangada, em Eldorado.

(*) Especiais para o GLOBO

COLABORARAM Liane Thedim e Chico Oliveira

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