Título: CRESCE BUSCA POR ANTIVIRAL
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Fonte: O Globo, 22/10/2005, O Mundo, p. 33

Especialistas alertam para riscos

Preocupados com a possível chegada da gripe de aves no Brasil, diversos consumidores estão correndo às drogarias do país em busca do antiviral Tamiflu ¿ o remédio que até hoje se revelou o mais eficaz contra casos de influenza. Especialistas e o próprio laboratório fabricante da droga, no entanto, alertam que não há razão para a população estocar o remédio.

¿ É um exagero comprar antivirais agora ¿ sustenta o virologista Fernando Portela Câmara, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). ¿ Não há nenhuma evidência de epidemia entre humanos. Além do mais não se sabe sequer se esse remédio será eficaz para o caso de uma epidemia humana.

A droga tem eficácia comprovada contra os vírus influenza em geral e já foi usada com sucesso no tratamento de algumas pessoas infectadas pelo H5N1 na Ásia. Não se sabe, entretanto, se ela funcionará no caso de uma epidemia humana causada por um vírus mutante.

Além disso, embora tenha se revelado um medicamento seguro e bem tolerado, o Tamiflu pode provocar alguns efeitos colaterais, como vômitos e diarréias. Outra preocupação de especialistas é que o uso indiscriminado da droga possa criar uma resistência no vírus, o que seria péssimo no caso de uma epidemia.

¿ Nada justifica sair comprando Tamiflu, que não é uma droga barata (a caixa custa, em média, R$100). No momento, o remédio mais eficaz chama-se OF, ou seja, orações fervorosas para que a doença não chegue por aqui ¿ disse o virologista Mauro Schechter. ¿ O importante, claro, é aumentarmos a vigilância epidemiológica.

Dificilmente a droga será encontrada nas drogarias, em todo caso, uma vez que o laboratório Roche está concentrando as vendas do Tamiflu para os governos.

¿ A estratégia do país é ter um estoque de reserva distribuído via unidades hospitalares do governo. E como era um remédio de pouca demanda, dificilmente haverá estoques em drogarias ¿ afirmou o presidente da Associação do Comércio Farmacêutico do Rio de Janeiro, Luis Carlos Marins. ¿ Nem é indicado que as pessoas comprem porque não há necessidade.

Em nota divulgada ontem, a Roche informou que ¿a prioridade neste momento é garantir que o medicamento esteja disponível nos países com surtos de influenza e atender as encomendas governamentais para planos de pandemia¿. O laboratório anunciou o aumento de sua capacidade de produção mundial do medicamento, cuja produção deve crescer de 8 a 10 vezes até meados de 2006. A Roche não exclui inclusive a hipótese de o remédio vir a ser fabricado como genérico.