Título: INVESTIGADORES FECHAM CERCO À CASA BRANCA
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Fonte: O Globo, 22/10/2005, O Mundo, p. 36

Assessores de Bush e Cheney correm risco de ser indiciados por perjúrio e obstrução da Justiça no caso Plame

WASHINGTON. Enquanto a Casa Branca mergulha em silêncio e tensão, promotores que investigam o vazamento para a imprensa da identidade de uma agente da CIA (agência de inteligência americana) tentam determinar se altos funcionários do governo procuraram enganá-los, escondendo deles seu envolvimento num crime que mobiliza a opinião pública nos Estados Unidos. A estratégia dos promotores foi revelada ontem por advogados envolvidos num dos casos mais espinhosos enfrentados pelo presidente George W. Bush.

No centro da polêmica estão Karl Rove, principal assessor político de Bush, e Lewis Libby, chefe de Gabinete do vice-presidente Dick Cheney. Segundo advogados ouvidos pelo ¿New York Times¿, o promotor Patrick Fitzgerald, que comanda as investigações, considera a possibilidade de pedir o indiciamento de Rove e Libby por perjúrio, obstrução da Justiça e falso testemunho. Seria um duro golpe para um governo acostumado a manter sob controle as questões que o afetam.

Promotores abrem site onde divulgariam indiciamentos

Advogados afirmaram que, após quase dois anos de investigações, Fitzgerald poderá apresentar as acusações contra Rove e Libby terça-feira ou quarta. O promotor nada comentou, mas o prazo para o grande júri (que analisa o caso preliminarmente para decidir se um processo será aberto) encerrar seus trabalhos termina sexta-feira. Além disso, os investigadores abriram ontem um site, indicando que divulgarão ali os indiciamentos.

O caso que põe em xeque a Casa Branca teve início com o vazamento para a imprensa da identidade da agente Valerie Plame, o que é crime nos EUA. A suspeita é de que altos funcionários do governo revelaram seu nome a jornalistas para se vingarem do marido dela, o ex-embaixador Joseph Wilson, que desmentira um dos argumentos de Bush para atacar o Iraque: a compra de material nuclear por Saddam Hussein no Níger. Wilson fora ao país africano em missão oficial e constatara que a negociação não ocorrera.

Embora Fitzgerald possa indiciar altos funcionários do governo por revelarem a identidade de Plame, vários advogados que estão a par do caso afirmaram que mais provavelmente ele se voltará para acusações relacionadas a crimes cuja verificação seria mais fácil, como falso testemunho e obstrução da Justiça. Além disso, poderia apresentar ao grande júri uma ampla acusação de conspiração.

Bush diz que há muita conversa e especulação

Segundo as fontes, Rove foi advertido de que corre sério risco de ser processado por não ter dito ao grande júri que conversara sobre Plame com Matt Cooper, repórter da revista ¿Time¿. Em seu testemunho, o assessor de Bush só se lembrou da conversa depois da descoberta de um e-mail sobre o assunto que enviara a um assessor de segurança nacional. Já Libby correria o risco de ser acusado de falso testemunho e obstrução da Justiça devido a contradições entre seu testemunho e os da repórter do ¿New York Times¿ Judith Miller e de outros jornalistas.

Miller ficou presa quase três meses por se negar a revelar quem lhe contara sobre a agente da CIA. Foi libertada depois de dizer que conversou ¿ pelo menos três vezes ¿ com Libby sobre Plame antes de Robert Novak identificar a agente em sua coluna, em julho de 2003. Libby sustenta que soube da identidade da agente por repórteres, mas estes negam.

A expectativa dos advogados de Rove e Libby é de que os promotores concluam que não há provas suficientes para indiciá-los. Mas o caso tem sido uma nuvem negra sobre a Casa Branca, e poderia envolver outros altos funcionários do governo. Quinta-feira, Bush afirmou:

¿ Há algum barulho aqui, muita conversa e especulação, e muitas opiniões. Mas o povo americano espera que eu faça meu trabalho, e vou fazê-lo.