Título: HOLOFOTES ACESOS SOBRE A BANCADA DO `NÃO¿
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 23/10/2005, O País, p. 4
Deputados festejam a campanha bem-sucedida
BRASÍLIA e SÃO PAULO. Inicialmente reticentes em relação ao referendo, os parlamentares contrários à proposta fizeram de tudo para impedir a consulta popular. Chegaram a ser batizados de ¿bancada da bala¿. Temiam a derrota, já que as pesquisas apontavam larga vantagem para o ¿Sim¿. Mas com a propaganda eleitoral, alguns deles, antes desconhecidos nacionalmente, ganharam espaço na campanha, na mídia e vivem instantes de fama.
Outros, como o ex-governador de São Paulo Luiz Antonio Fleury Filho voltaram aos holofotes. Fleury, deputado pelo PTB paulista, é vice-presidente da Frente Parlamentar pela Legítima Defesa. Ele reconhece que a discussão trouxe visibilidade a alguns parlamentares que defendem o ¿Não¿ e normalmente não têm espaço nos meios de comunicação. Embora tenha aparecido muito, Fleury não se considera um beneficiado pela exposição.
¿ Alguns estão aparecendo mais, principalmente depois da pesquisa que mostrou o favoritismo do ¿Não¿. Não é meu caso, fui governador de São Paulo, sempre tive visibilidade.
Nada mais justo, segundo ele, que os defensores do ¿Não¿ tenham espaço para defender o que pensam, já que durante a mobilização nacional pelo desarmamento os hoje defensores do ¿Sim¿ tiveram visibilidade privilegiada. Um privilégio, segundo Fleury, foi a participação de alguns deputados, como Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), relator do Estatuto do Desarmamento, e João Paulo Cunha (PT-SP), ex-presidente da Câmara, numa caminhada pelo desarmamento no Rio exibida na novela ¿Mulheres Apaixonadas¿, da Rede Globo, em 2003.
¿ Desde 2001 discuto o Estatuto do Desarmamento e me posicionei contra alguns artigos. Sabe quantas vezes fui entrevistado sobre o assunto? Nenhuma ¿ disse Fleury.
Reclamando do ¿maniqueísmo¿ que havia, o vice-presidente da Frente Parlamentar pela Legítima Defesa critica a participação do governo federal na defesa do ¿Sim¿. Essa posição do governo ficou clara, conforme entende, em artigo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva publicado na ¿Folha de S.Paulo¿, e o engajamento do ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, pelo ¿Sim¿.
¿ Havia maniqueísmo. Agora parece que a população entendeu ¿ disse, referindo-se ao resultado da campanha na televisão.
Durante o governo de Fleury, em 2 de outubro de 1992, aconteceu o massacre do Carandiru. Comandadas pelo coronel Ubiratan Guimarães, tropas da PM invadiram o presídio e fuzilaram 111 homens no pavilhão 9 da casa de detenção. Condenado em 2001 a 632 anos de prisão, a maior sentença aplicada a um réu no Brasil, pela morte de 102 dos 111 mortos, Ubiratan recorreu da sentença e, por ser primário, aguarda o julgamento em liberdade. O coronel da reserva é deputado estadual pelo PTB de Fleury em segundo mandato.
Alberto Fraga (PFL-DF) era pouco conhecido até o início da propaganda. Um dos coordenadores da campanha do ¿Não¿, viajou pelo país e foi a dezenas de debates e programas de TV. O deputado é coronel da PM do Distrito Federal, tem porte e não esconde que anda armado. Já até posou com uma de suas pistolas. Fraga não se considera um deputado menos importante e nega que tenha entrado na campanha em busca de notoriedade.
¿ Não estou em busca da fama, mas de realizar meu trabalho. Fico chateado de ser chamado de deputado do baixo clero. Tenho seis projetos aprovados ¿ comentou.
Autor da idéia de que, se for aprovado o ¿Sim¿, as pessoas devem pendurar uma placa dizendo ¿Nesta casa não há armas¿ para os ladrões entrarem sem resistência, Fleury mostrou ao GLOBO o cartaz que exibiu. Mas na hora de posar com a peça na porta de casa...
¿ De jeito nenhum ¿ recusou-se.