Título: `NUNCA MAIS ARRUMEI CONFUSÃO¿
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 23/10/2005, O País, p. 8

SÃO PAULO. De família de classe média alta, estudante de direito de uma das mais conceituadas faculdades do país, morador do bairro nobre de Higienópolis e com dinheiro no bolso para comprar carro e viajar pelo mundo, Sandro sempre achou que faltava algo para se proteger. Numa conversa entre amigos do curso, ainda com 23 anos, descobriu que na própria faculdade poderia comprar qualquer revólver. Das mãos de um traficante de armas comprou seu primeiro, de calibre 38. Assim que começou a andar armado, passou a acreditar que tinha mais coragem para enfrentar o mundo.

Com a coragem, surgiram problemas. Sandro lembra com voz embargada do dia em que apontou a arma para a própria namorada. Na primeira crise de ciúmes que teve depois de comprar a arma, ele não pensou duas vezes em buscá-la no carro para ameaçar a mulher com quem pretendia se casar.

¿ Eu pensei que ela tinha dado em cima de um amigo nosso e fui tirar satisfação com a arma na mão. Nunca mais ela me perdoou e eu perdi a pessoa que eu mais amava.

O rapaz entrava com o revólver em todos os lugares, até em boates.

¿ Eu me sentia mais seguro e achava que todo mundo, mesmo sem saber que eu estava com uma arma, me olhava com mais respeito ¿ lembra ele, que disparou um tiro contra o motorista de um carro que fechou o dele.

Após muitas noites em claro, ele resolveu doar a arma para a campanha de desarmamento.

¿ Não tive coragem de entregar a arma e dei para uma amiga para que ela entregasse para mim. Se aquele revólver continuasse comigo provavelmente eu mataria alguém. O curioso é que depois que me livrei da arma nunca mais arrumei confusão na rua ¿ diz o jovem.