Título: NO MENU, A SALADA DE OPINIÕES DO `SIM¿ E DO `NÃO¿
Autor: Letícia Helena
Fonte: O Globo, 23/10/2005, O País, p. 13
Disputa reuniu velhos adversários
Misture ruralistas, anarquistas, um partido de esquerda radical, um movimento ultra-nacionalista e democratas de longa cepa, como os escritores Jô Soares e João Ubaldo Ribeiro. O resultado dessa salada de opiniões temperou a campanha do ¿Não¿ no referendo. Independentemente do resultado das urnas, a turma que quer manter o comércio legal de armas já garantiu um título: o de grupo mais eclético na disputa. Reunir UDR, PSTU e o MV-Brasil em torno do mesmo cardápio deu um sabor digamos, exótico, à propaganda no rádio e na TV.
¿ Sabe quem ficará desarmado? Os trabalhadores, os camponeses, a população mais pobre ¿ diz o dirigente do PSTU Américo Gomes.
¿ Com a proibição de armas, os sem-terra vão poder invadir as terras que quiserem ¿ justifica o presidente da UDR, o fazendeiro Luiz Antonio Nabhan Garcia.
Parece estranho, mas com argumentos tão opostos, Gomes e Garcia estão do mesmo lado. Mais estranho ainda é encontrar gente que não simpatiza com ruralistas ou esquerdistas também navegando no barco do ¿Não¿.
¿ Votamos ¿Não¿ porque o desarmamento civil não diminuirá a violência ¿ afirma Wagner Vasconcellos, mentor do movimento nacionalista MV-Brasil.
¿ Somos contra qualquer tipo de proibição ¿ resume o universitário Felipe Ramon de Castro, dirigente de um movimento anarquista.
Na cozinha do ¿Sim¿, foram esquecidas antigas divergências. Assim foi possível convidar para a mesma mesa petistas e tucanos, dirigentes da UNE e da juventude do PMDB, evangélicos históricos e pentecostais.
¿ As armas de fogo ceifam vidas. Como somos a favor da vida, fizemos campanha pelo sim ¿ diz o apóstolo Estevam Hernandez, um dos líderes da Renascer em Cristo, de linha neopentecostal.
¿ O Brasil precisa dizer sim para a vida ¿ completa o pastor batista Ariovaldo Ramos, presidente da Visão Mundial do Brasil.
No seio da Igreja Católica, a campanha do ¿Sim¿ operou milagres. Reuniu os seguidores da Teologia da Libertação e os mais importantes líderes dos católicos no país.
¿ A proibição é um passo importante para a redução da violência ¿ prega dom Raymundo Damasceno Assis, arcebispo de Aparecida.
¿ Atrás de cada arma há um espírito assassino. Precisamos dizer não às armas ¿ diz o teólogo Leonardo Boff.
No mundo artístico e no das celebridades, pelo menos publicamente, o ¿Sim¿ levou vantagem: de Fernanda Montenegro a Chico Buarque, duas dúzias de astros e estrelas fizeram campanha pela proibição da venda de armas. No campo oposto, apenas o cantor Fagner e a atriz Angelina Muniz apareceram na telinha explicando por que votam ¿Não¿.
No território das letras, o referendo pôs velhos amigos em lados opostos: João Ubaldo Ribeiro e Jô Soares vão votar ¿Não¿. Luís Fernando Veríssimo optará pelo ¿Sim¿.