Título: CHUVAS VOLTAM A CAIR E FAZEM SUBIR NÍVEL DE RIOS
Autor: Demétrio Weber
Fonte: O Globo, 23/10/2005, O País, p. 18

Solimões, que chegou a ficar com 36 cm, está agora com 2,56 metros em Tabatinga

TABATINGA (AM). Com a volta da chuva no oeste do Amazonas e nas nascentes de rios fora do país, o Rio Solimões subiu em média mais de 20 centímetros por dia na última semana, em Tabatinga, a 1.105 quilômetros de Manaus, na fronteira do Brasil com o Peru e a Colômbia. Na sexta-feira, a água atingia o nível de 2,56 metros. Bem acima, portanto, da marca de 36 centímetros registrada em 9 de setembro, a mais baixa deste ano. Mas ainda distante da mais alta, de 11,62 metros, em maio.

Quem acompanha diariamente a variação do Solimões é Jayme Azevedo da Silva, conferente de carga da Sociedade de Navegação, Portos e Hidrovias (SNPH) do Amazonas. De domingo a domingo, faça chuva ou faça sol, ele caminha até a margem do rio e olha a régua de medição. A seguir, digita os dados num terminal. De lá, a informação segue para a Agência Nacional de Águas, em Brasília.

¿ Já perdi até festa de aniversário para vir aqui ¿ diz ele.

A leitura é feita às 7h e às 17h. Quando o rio está cheio, basta caminhar até o porto. Com a seca, porém, Jayme é obrigado a descer um barranco enlameado até a beira d¿água.

Há três réguas de medição. Duas costumam ficar submersas, pois marcam o nível de zero a três metros. A mais profunda, que marca até um metro, não vinha à tona desde 1999. A outra, desde 2003.

Jayme monitora o Solimões há 14 anos. Já viu secas piores, mas nunca uma que afetasse, como agora, a bacia do Solimões por inteiro, deixando em situação pior municípios vizinhos de Manaus ¿ onde o Solimões se junta ao Rio Negro e passa a se chamar Rio Amazonas. Segundo a CNPH, o nível do rio desceu a 13 centímetros em 1998, em Tabatinga. Em 1999, atingiu a sua marca mais alta: 13,82 metros.

Em Benjamin Constant, a 30 minutos de voadeira (barco com motor de popa), o transporte escolar voltou a circular no riacho de Boa Vista. Isso significa um problema a menos para os filhos da agricultora Maria Inês Garcia, que não precisam mais caminhar 15 minutos até o Rio Javari, onde a navegação não havia sido suspensa. O igarapé, porém, não subiu ainda o suficiente para que dele se possa tirar água de boa qualidade para beber. Resta o brejo nos fundos da casa, onde a água é turva e fétida. (Demétrio Weber, enviado especial)