Título: Investimento em infra-estrutura deveria ser de R$31 bi e não passa da metade
Autor: Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 23/10/2005, Economia, p. 32

Redução nos gastos de saneamento causa prejuízo de R$14,2 bilhões

SÃO PAULO. No esforço para ampliar ainda mais o superávit fiscal, o governo sacrifica gastos não só na agricultura mas em áreas que, em última instância, são básicas para a manutenção do crescimento econômico. Estimativas do Banco Mundial e da Associação Brasileira de Infra-estrutura e Indústria de Base (Abdib) mostram que o país deveria investir cerca de R$31 bilhões por ano em transporte, energia e saneamento, mas só tem desembolsado metade disso. Quando o problema não está no estrangulamento de verbas oficiais, é o governo que tem dificuldades para estabelecer um marco regulatório com o objetivo de atrair mais investimentos do setor privado.

O projeto de lei 5.296, que institui uma política nacional para o setor de saneamento, está parado no Congresso e sem previsão de votação depois de receber 862 emendas. Na avaliação de empresários, o texto proposto pelo governo é falho em pontos fundamentais, como financiamento e gestão dos investimentos. Esse atraso pode ser mensurado em números. Mantido o atual ritmo de liberação de recursos oficiais, a universalização dos serviços de água e esgoto no país serão atingidos só em 2065.

Atualmente, cerca de 14 milhões de brasileiros não têm acesso à água encanada. Outros 34 milhões não contam com coleta de esgoto e 84 milhões não dispõem de tratamento de dejetos. Sem o investimento necessário, a Abdib calcula ainda que o país desperdice R$14,2 bilhões por ano em morbidade e mortalidade infantil.

¿ Com o investimento, podemos criar 1,6 milhão de empregos ¿ diz o presidente da entidade, Paulo Godoy.

País economizaria R$11,6 bi com estradas melhores

A péssima conservação das estradas representa um pesadelo para os motoristas. A Associação Nacional de Transportes de Carga (NTC & Logística) estima que, se as estradas do país apresentassem melhores condições, o país (governo e empresas) economizariam R$11,6 bilhões todos os anos. Mas o dinheiro continua sendo desperdiçado com a constante quebra de carros e caminhões, com o preço do frete, com o gasto excessivo de combustível para fazer as viagens.

Esse número não considera os prejuízos e sacrifícios pessoais com mortes nas estradas. O número de mortos por mil quilômetros rodados no Brasil é de 213, contra 21 na Itália, 14 na Alemanha, dez no Japão e Reino Unido e três no Canadá. O dado é do Coppead, o centro de ensino e estudos em gerência de negócios da UFRJ.

Diretor-geral da Transportadora Araçatuba (uma das maiores do país), Oswaldo Dias de Castro Júnior sente no bolso o prejuízo com a má conservação das estradas. Os gastos mensais com manutenção, reparo ou troca de pneus e óleo diesel chegam a R$2,8 milhões, o que corresponde a 18% do seu faturamento.

Há dez anos, cada motorista da companhia rodava uma média de 800 a mil quilômetros numa jornada de 11 horas. Hoje, considerando o mesmo turno de 11 horas, o caminhão percorre um trajeto máximo de 600 quilômetros.

`Caminhão da Europa não agüentaria um dia no Brasil¿

Com 640 veículos, a Araçatuba trafega pelos piores trechos da malha rodoviária, como a BR 153 (Belém-Brasília) e a BR 364 (corta Mato Grosso e Mato Grosso do Sul rumo ao Acre).

¿ Um caminhão fabricado na Europa não agüentaria um dia se rodasse aqui no Brasil ¿ diz o empresário.

Inicialmente, o governo tinha o projeto de licitar ainda neste ano sete trechos de estradas federais de grande movimento, mas o Tribunal de Contas da União (TCU) apresentou uma série de dúvidas sobre as regras para a concessão do serviço. Isso pode afetar o cronograma inicial do governo.

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