Título: ESTADOS DE FRONTEIRA DÃO MAIS VOTOS PARA O `NÃO¿
Autor: Elenilce Bottari
Fonte: O Globo, 24/10/2005, O País, p. 8
No Rio de Janeiro, defensores do comércio de armas conseguiram 62% dos votos contra apenas 38% do `Sim¿
A campanha pela manutenção do comércio de armas no país venceu em todos os estados brasileiros, desde o Rio Grande do Sul, onde o não recebeu 6,5 vezes o número de votos do ¿Sim¿ até o Amapá, onde 73% dos eleitores votaram ¿Não¿ contra apenas 26,64% de eleitores favoráveis à proibição da venda de armas. Os estados de fronteira como o próprio Rio Grande do Sul, Acre, Roraima, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e Paraná, onde é grande o problema de tráfico de armas, deram vitória esmagadora para o ¿Não¿.
Mesmo no Rio, onde a guerra entre quadrilhas fortemente armadas é responsável por grande parte dos homicídios do estado, o ¿Não¿ também ganhou com ampla margem, 62% dos votos contra 38%. Segundo o desembargador Marlan de Moraes Marinho, presidente do Tribunal Regional Eleitoral do Rio, o resultado das urnas nada teve a ver com a campanha dos dois comitês, e sim com a vontade popular:
¿ Parece-me que não foi o marketing que decidiu isso, mas o sentimento popular. A idéia de perder um direito tocou muito a alma do brasileiro. É difícil, em um país com 500 anos, mudar assim hábitos e costumes de uma hora para outra.
Em Alagoas, terra do presidente do ¿Comitê por um Brasil Sem Armas¿, senador Renan Calheiros, até às 21h38m, o ¿Não¿ havia recebido 55,43% dos votos, contra 44,57% para do ¿Sim¿.
Insegurança motivou o ¿Não¿
Segundo o Secretário da Justiça e da Segurança do Rio Grande do Sul, José Otávio Germano, a vitória do ¿Não¿ no referendo foi um recado ao governo federal de que é necessário aumentar os investimentos na área de segurança. Em Porto Alegre, onde está a sede da Taurus, a única indústria de armas leves para civis do país, o ¿Não¿ venceu com 83,66% dos votos, contra 16,34% do ¿Sim¿ e uma abstenção de 17,18%.
¿ Isso não me surpreendeu, porque quem vive o dia-a-dia da segurança sentia que era isso que iria ocorrer. O Brasil nunca teve uma política de segurança e, antes de se preocupar com o comércio legal, deveria atacar o comércio ilegal de armas e munições. A população não se deixou iludir com isso e sinalizou claramente que o governo precisa tratar a questão da segurança pública com prioridade e seriedade. Essa seriedade é basicamente destinar mais recursos, porque as polícias sabem o que fazer. O que não têm são recursos, tecnologia, armamento, o que qualquer polícia do mundo tem e a nossa não tem ¿ disse o secretário.
Na Bahia, até 22h03m, o ¿Não¿ tinha conseguido 55,45% dos votos, contra 44,55% do ¿Sim¿. Roraima foi o segundo estado com maior número de votos pela manutenção do comércio de armas. Até 21h54m, o ¿Não¿ tinha 84,63% dos votos.
Os melhores resultados para a campanha do ¿Sim¿, foram em alguns estados das regiões Sudeste e Nordeste. Até às 21h43m, São Paulo registrava, com 8,4 milhões de votos, 40,37% para o ¿Sim¿. Mesmo assim, o ¿Não¿ estava vencendo com 59,63% dos votos.
O melhor resultado para a campanha pela proibição do comércio de armas foi em Pernambuco, onde até 21h46m, o ¿Sim¿ havia conseguido 45,47% dos votos, contra 54,53% para o ¿Não¿.