Título: NO RIO, BANDO ARMADO INVADE SEÇÃO ELEITORAL
Autor: Cássio Bruino, Gustavo Goulart
Fonte: O Globo, 24/10/2005, O País, p. 9

Bandidos trocam tiros com policiais militares em escola da Baixada onde havia quatro urnas da 187ª Zona

Em um dos poucos incidentes registrados no referendo no Estado do Rio, pelo menos oito bandidos, entre eles uma adolescente de 15 anos, invadiram na madrugada de ontem, por duas vezes, a Escola Municipal Manoel Gonçalo, em São João de Meriti, Baixada Fluminense, onde havia quatro seções da 187ª Zona Eleitoral. Houve tiroteio com PMs e um dos invasores foi ferido com um tiro de fuzil no braço, largando na escola uma metralhadora 9 mm.

A primeira invasão foi por volta das 2h, quando os bandidos, com pistolas, fuzis e metralhadoras, tentaram render um sargento PM. O policial resistiu e o bando fugiu. A adolescente ficou para trás, foi detida e perto dela os policiais encontraram uma granada M4. A jovem foi levada à 64ª DP (Vilar dos Teles), onde prestou depoimento e foi liberada. Por volta de 4h os bandidos tentaram de novo invadir a escola, mas foram rechaçados, com um deles abandonando a metralhadora. Próximo à escola, na Avenida Comendador Teles, cinco bandidos fizeram uma falsa blitz poucas horas antes, na noite de sábado. A supervisora da 187ª Zona Eleitoral, Fernanda Ferreira, disse que não houve problemas durante o dia, na votação.

Na Zona Sul, idosos insistem em participar

Na Zona Sul do Rio, num ambiente tranqüilo, idosos com mais de 70 anos, que não são obrigados a votar, fizeram questão de dar sua opinião sobre o comércio de armas e de munição. Muitos, com os filhos, limitavam-se a lembrar que o voto é secreto, negando-se a revelar sua opção. Outros, como o militar da Marinha aposentado José Sartié, 79 anos, não tiveram a mesma preocupação.

¿ Faço questão de votar no ¿não¿, porque acho que não é proibindo o comércio legal de armas que a violência vai diminuir ¿ disse.

O que se observou no referendo na Zona Sul carioca foi o grande número de crianças acompanhando os pais às urnas. No Colégio Notre Dame, a pequena Penélope, 4 anos, acompanhou o pai, o publicitário Antônio Mello, 51 anos, para apertar a tecla número 2, a do ¿sim¿ à proibição da venda de armas e munição no país. A mãe dela, a jornalista Sylvia Mello, 43 anos, disse que a filha já havia votado numa simulação do referendo feito na escola recentemente.

Foi também tranqüila a votação nas zonas eleitorais nos subúrbios. Os eleitores encontraram poucas filas e a votação se deu sem incidentes. Segundo o responsável pela fiscalização do Tribunal Regional Eleitoral (TRE) na Região Metropolitana do Rio, Luiz Fernando Santabrígida, houve apenas três casos de propaganda irregular registrados por fiscais na cidade: um em Santa Cruz e dois da Tijuca.

De manhã, logo após começar a votação, fiscais do TRE flagraram um grupo de manifestantes do PSTU em frente ao Tijuca Tênis Clube distribuindo boletins que faziam apologia ao ¿não¿. Cerca de 400 boletins foram apreendidos. Mesmo assim, cerca de 15 manifestantes do PSTU podiam ser vistos, poucas horas depois, entregando panfletos a pedestres duas quadras adiante, na Praça Saenz Peña.

Turma do ¿sim¿ também deu trabalho a fiscais

Segundo Luiz Fernando Santabrígida, os partidários do ¿sim¿ também deram trabalho aos fiscais do TRE. Por volta das 13h30m, um grupo de dez pessoas foi flagrado próximo ao mesmo clube fazendo a propaganda irregular do ¿sim¿. Além disso, segundo ele, fiscais apreenderam na Avenida Santa Cruz, em Santa Cruz, Zona Oeste, mais de cinco mil panfletos e outros materiais promocionais que pregavam a proibição do comércio de armas e munição.