Título: FAVELAS NO MEIO DO CAMINHO
Autor: Gian Amato
Fonte: O Globo, 24/10/2005, Rio, p. 11

Comunidades avançam na direção das linhas Amarela e Vermelha, principais vias expressas do Rio

Barracos de madeira, puxadinhos, lixo, lençóis e roupas pendurados no gradil de proteção, improvisado como varal. Essa é a paisagem vista pelos ocupantes dos cerca de 460 mil veículos que cruzam diariamente as linhas Amarela e Vermelha, duas das mais importantes vias expressas do Rio, atualmente cercadas de favelas por todos os lados.

Em apenas 20 minutos, tempo médio levado para percorrer os 20 quilômetros da Linha Amarela, da Ilha do Fundão até a Barra, é possível avistar 19 favelas coladas à via ¿ quase uma por quilômetro.

Comunidade nasce ao lado do pedágio

Algumas já existem há anos, como é o caso da Cidade de Deus ou da Favela do Guarda, em Del Castilho. Mas também surgem novas comunidades. Uma delas, a Favela da Família, se expande sobre o morro ao lado da Praça do Pedágio, sentido Fundão, em Água Santa, no trecho próximo à saída 2, que dá acesso aos bairros de Água Santa, Engenho de Dentro e Méier.

A favela é recente e nem o prefeito Cesar Maia sabia da existência dos diversos barracos e casas que avançam sobre o morro, algumas ainda em fase de construção.

¿Ao lado do pedágio, a administração da Linha Amarela não nos chamou a atenção. Vou checar¿, disse o prefeito, por e-mail.

A favela em crescimento está localizada num trecho onde não há grade de proteção separando a via do morro. Um dos acessos à comunidade se dá pela lateral da praça do pedágio, por onde passam diariamente cerca de 90 mil veículos, segundo levantamento da Lamsa, concessionária que administra a Linha Amarela.

Alguns motoristas já temem por sua segurança no local, principalmente nos horários de maior tráfego, quando a passagem pelo pedágio costuma ser lenta por causa dos congestionamentos.

¿ Quando chego perto do pedágio, a primeira coisa que faço é fechar o vidro do carro ¿ disse uma motorista que não quis se identificar.

A Lamsa informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que sua responsabilidade é cuidar exclusivamente da via e do bem-estar dos usuários, deixando o problema da favelização para a prefeitura.

Em outros pontos críticos da Linha Amarela, o panorama é o mesmo. Em Del Castilho, ao lado de uma loja da rede varejista Wall Mart, algumas casas construídas pela prefeitura para o Favela-Bairro, e que ainda estão vazias, já ganharam alguns puxadinhos como vizinhos. Segundo o prefeito, as casas serão habitadas pelas famílias da comunidade Águias de Ouro.

Principal acesso ao Aeroporto Internacional Tom Jobim e ligação entre a Baixada Fluminense e o Centro da cidade do Rio, a Linha Vermelha tem 17 favelas espalhadas ao longo dos seus 22km e serve de passagem para 120 mil veículos diariamente.

No Parque Vila Nova, em Caxias, é possível ver o crescimento de uma favela ao lado de um conjunto habitacional do governo do estado. A poucos metros dali, a tela de arame nas margens da pista foi cortada e é local de travessia dos moradores.

Ao lado do 22º Batalhão da Polícia Militar, no Complexo da Maré, os moradores da comunidade ignoram a proximidade com a via e penduram roupas e lençóis na grade que separa a pista da favela. Ontem, até um tapete estava no varal improvisado. Roupas voando pela pista são cenas comuns.

A presença do batalhão da PM não é o suficiente para tranqüilizar os motoristas que passam por ali. Ontem, devido a um acidente em frente à Vila Olímpica da Maré, houve engarrafamento nos dois sentidos e alguns motoristas usaram o acostamento para fugir da frente da favela. O dono de um Mitsubishi vermelho, que trocava um pneu furado, resumiu a situação:

¿- Quero sair logo daqui.

OBRAS DO DER IGNORAM FAVELIZAÇÃO, na página 12