Título: VENDA DE ARMAS NÃO DEVE CRESCER, DIZEM ESPECIALISTAS
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 25/10/2005, O País, p. 5

Para sociólogo, eleitores viram referendo como imposição

SÃO PAULO. O sociólogo Túlio Khan, ex-diretor do Núcleo de Estudos de Violência da USP, disse que o governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva falhou na política de segurança pública mas não pode ser responsabilizado por dar continuidade à discussão sobre venda de armas, que ultrapassa os limites da atual administração. Khan classificou de engano a posição dos eleitores que votaram ¿Não¿ para protestar por terem considerado o tema do controle de armas imposição do governo Lula.

¿ Muitos eleitores encararam o referendo como uma proposta deste governo, o que é falso. A questão do controle de armas começou em 1997, quando a punição para porte de armas passou de mera contravenção para crime. Em seguida, há dois anos, aprovou-se o Estatuto do Desarmamento, que já vinha sendo discutido por toda a sociedade. Essa discussão ultrapassa o governo atual ¿ disse Khan, para quem a manutenção do comércio não significará o aumento do volume de compra de armas no Brasil.

¿ O estatuto é bastante rígido quanto à compra de armas, e isso não muda. Creio que quem nunca se interessou em comprar uma arma não vai pensar em adquirir uma só por causa do referendo.

Khan também avalia que não será a vitória do ¿Não¿ no referendo que vai aumentar ou diminuir a entrega voluntária de armas.

¿ Quem tinha intenção de devolver uma arma, já devolveu. Quem deve continuar desarmando agora é a polícia, e esse trabalho será contínuo ¿ avaliou ele, também diretor do Departamento de Cooperação e Articulação das Ações de Segurança Pública de São Paulo, administrado pelo PSDB.

Sou da Paz considera ter posto discussão em pauta

Para Jair Krischke, secretário-geral do Movimento de Justiça e Direitos Humanos, ONG que funciona no Rio Grande do Sul, estado com a votação mais expressiva a favor do comércio de armas (84%), a manutenção da venda de armamentos não vai aumentar os índices de criminalidade no país:

¿ No Rio Grande do Sul temos uma arma para cada dez habitantes e 12 homicídios por arma de fogo por cem mil habitantes. No Rio de Janeiro há uma arma para cada 42 habitantes e 74 mortes a tiro por cem mil habitantes. Ou seja, não é a quantidade de armas que define o grau de mortalidade.

O presidente do Instituto Sou da Paz, Denis Mizne, considerou parcial a derrota do ¿Sim¿. Para ele, o fato de o assunto ter se transformado em pauta nacional já é uma vitória exemplar.

¿ Agora o pessoal do ¿Não¿, que nunca trabalhou nem nunca vai trabalhar pela segurança pública no país, pode pegar o seu chequinho nos grandes fabricantes de armas e seguir sua vida como se nada tivesse acontecido ¿ disse ele.