Título: SOUZA AGUIAR SÓ RECEBERÁ PACIENTES GRAVES
Autor: Fabio Vasconcellos
Fonte: O Globo, 25/10/2005, Rio, p. 20

Falta de medicamentos faz unidade cancelar cirurgias eletivas e pedir que ambulâncias não levem doentes

A falta de pelo menos 300 tipos de medicamentos levou ontem os médicos do Hospital municipal Souza Aguiar a decidirem suspender parte do atendimento a partir de hoje. Somente os pacientes em estado grave serão recebidos na unidade, que cancelou todas as cirurgias eletivas até que o abastecimento de remédios seja normalizado pela prefeitura.

A decisão foi comunicada à Secretaria de Saúde e a representantes das comissões de saúde da Assembléia Legislativa (Alerj) e da Câmara de Vereadores que visitaram a unidade. Além de decidirem atender apenas pacientes em situação grave, os médicos vão pedir aos profissionais do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) que evitem levar doentes para o Souza Aguiar.

Hoje os médicos tentarão transferir para outros hospitais doentes que estejam precisando de medicamentos que estão em falta na unidade. Foi cancelada também a entrega de remédios para pessoas que fazem tratamento e que não estão em situação de emergência.

A prefeitura admitiu que há desabastecimento e explicou que um problema burocrático com os fornecedores teria atrasado a entrega dos produtos. A Secretaria municipal de Saúde informou que até o fim desta semana o fornecimento estará normalizado.

Mas, segundo o presidente da Comissão de Saúde da Alerj, deputado Paulo Pinheiro, há risco de o problema se estender a outras unidades médicas da prefeitura. Ele afirmou que nos hospitais Miguel Couto, no Leblon, e Lourenço Jorge, na Barra, também há falta de remédios como antibióticos, anticoagulantes e analgésicos:

¿ Já temos informações de que a situação é crítica também nesses dois hospitais. O caso é tão complicado que no Souza Aguiar, dos 430 tipos de medicamentos que a unidade usa por mês, 300 estão com o estoque zerado.

A Comissão de Saúde da Alerj e o Sindicato dos Médicos farão outra inspeção hoje no Souza Aguiar. A intenção é verificar se o município já tomou alguma medida emergencial para resolver o problema da unidade, principalmente o caso dos 499 doentes internados. Caso o impasse persista, os deputados vão pedir ao Ministério Público estadual que entre com uma ação contra a prefeitura.

Para o vice-presidente da Comissão de Saúde da Câmara, vereador Carlos Eduardo, não é só a falta de remédios que tem dificultado o atendimento no Souza Aguiar. Segundo ele, há carência de médicos e também de equipamentos para suprir o aumento de 20% da demanda de pacientes.

¿ O Souza Aguiar está precisando de clínicos gerais, ortopedistas e anestesistas. O pior é que a prefeitura está com 2.059 médicos aprovados em concurso, mas não chama os profissionais ¿ disse Carlos Eduardo.

A Comissão de Saúde da Câmara vai entrar com outra ação contra a prefeitura hoje. O objetivo é fazer o município cumprir uma liminar que obrigaria a Secretaria de Saúde a contratar os médicos já concursados.

¿ Vou pedir à Justiça que aumente de R$1 mil para R$10 mil a multa para cada dia que a prefeitura descumprir a decisão de contratar os profissionais concursados ¿ disse o vereador Carlos Eduardo.