Título: MS INVESTIGA SE PARAGUAI LEVOU GADO DA FRONTEIRA
Autor: Paulo Yafusso E Aguinaldo Novo
Fonte: O Globo, 25/10/2005, Economia, p. 27

Governo suspeita de estratégia para dificultar vigilância sanitária. Estado já tem 11 focos de aftosa confirmados

CAMPO GRANDE, SÃO PAULO e BELO HORIZONTE. O Departamento de Operações de Fronteira (DOF), vinculado ao governo de Mato Grosso do Sul, investiga denúncia de que equipes do Serviço Nacional de Qualidade e Saúde Animal (Senacsa) do Paraguai invadiram o território do estado, para levar o gado criado na fronteira com o Brasil para propriedades mais afastadas.

A suspeita é que a estratégia seria dificultar o trabalho da vigilância sanitária, que cogita que o vírus da febre aftosa tenha vindo do Paraguai. O pedido para que o DOF apure a denúncia foi enviado pela Agência Estadual de Vigilância Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), junto com fotos que mostrariam carros do Senacsa circulando livremente em Mato Grosso do Sul sem passar pela desinfecção na ¿zona tampão¿ (municípios de Eldorado, Iguatemi, Itaquiraí, Japorã e Mundo Novo).

Em Paranhos, os paraguaios deixaram isoladas as 40 famílias do assentamento Vicente de Paula. Eles abriram buracos na única estrada que liga o núcleo rural ao centro do município.

A questão da aftosa já provocou um problema diplomático com o Paraguai, que fez uma reclamação formal sobre as acusações de que o vírus teve origem em território paraguaio.

Ontem, o Ministério da Agricultura confirmou mais um foco, no assentamento Floresta, em Eldorado, e 20 animais foram sacrificados. Com isso, já há onze focos em Mato Grosso do Sul e pelo menos quatro suspeitas de aftosa no Paraná. A Iagro e a Superintendência Federal da Agricultura investigam a denúncia de que um fazendeiro de Jateí (MS) enterrou oito a nove animais doentes.

São Paulo anuncia que continua livre de aftosa

Ontem, o Paraguai decretou estado de emergência na região de Alto Paraná, na fronteira com o Paraná, cuja capital é Ciudad del Este. As autoridades paraguaias também anunciaram uma nova vacinação do gado na fronteira com estados brasileiros.

A Secretaria da Agricultura de São Paulo descartou a possibilidade de animais de três fazendas estarem com aftosa, depois de terem participado de uma feira agropecuária em Londrina (PR), no começo do mês. Foi nessa feira que bois que estão no Paraná teriam sido infectados por animais comprados em Eldorado. Técnicos examinaram 37 animais nos municípios de Restinga, São Carlos e Itapetininga, mas nenhum apresentava sintomas.

O anúncio de São Paulo de que continua livre da aftosa ¿ o último foco confirmado foi há dez anos ¿ trouxe alívio a produtores e exportadores. O estado é o maior exportador de carne do país, com 61,5% dos embarques, e também compra e processa carne produzida em outros locais.

¿ A situação é muito grave. As demissões no setor serão inevitáveis, porque as exportações vão cair ¿ ponderou o governador Geraldo Alckmin.

Técnicos da secretaria paulista vão examinar todos os animais do Paraná que entraram em São Paulo desde o início de outubro. São 806 bovinos, 793 suínos, 39 ovinos e 20 caprinos, espalhados por 24 cidades.

O Instituto Mineiro de Agropecuária publica hoje uma portaria que proíbe o trânsito de animais, produtos e subprodutos de origem animal, além de materiais de multiplicação genética, vindos do Paraná ou que passem pelo território paranaense. Ficam excluídos produtos lacrados na origem e com selo do Serviço de Inspeção Federal.

O ministro da Agricultura, Roberto Rodrigues, voltou a dizer em São Paulo que a aftosa está sob controle no país.

(*) Especial para o GLOBO

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