Título: PSDB AMEAÇA COM NOVA CPI
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 26/10/2005, O País, p. 3

PFL condena proposta, considerada impulsiva, de investigar caixa 2

BRASÍLIA. Num gesto considerado impulsivo até pelo maior aliado, o PFL, o PSDB começou ontem a coletar assinaturas para a instalação de uma nova CPI no Senado. Desta vez, o alvo é o caixa dois nas campanhas eleitorais desde 1998, inclusive a disputa para o governo mineiro naquele ano, em que o senador Eduardo Azeredo é acusado de uso de recursos não contabilizados. A intenção dos tucanos é separar crimes eleitorais dos de corrupção. Hoje, as CPIs dos Correios e, em escala menor, do Mensalão apuram delitos dos dois tipos, mas, para o PSDB, o governo usa as denúncias de caixa dois para encobrir um esquema de corrupção patrocinado pelo PT.

¿ Há uma tentativa em andamento no país de construir uma grande farsa de resumir o sistema de corrupção do governo ao simples caixa dois. Caixa dois é crime, mas é diferente de crime de corrupção ¿ afirmou o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE).

PFL entende que CPI pode ser ¿tiro no pé¿

No PFL, havia a intenção de conversar com o PSDB e mostrar que a nova CPI poderia ser um ¿tiro no pé¿. Teme-se que ao pôr todas as campanhas na berlinda, acirre-se um jogo de acusações que paralisaria o país.

¿ Já temos tantas CPIs! Temos de analisar as conseqüências políticas de mais uma ¿ ponderou o senador José Jorge (PFL-PE), líder da minoria.

Segundo o líder do PSDB, senador Arthur Virgílio (AM), a intenção da CPI é apurar as campanhas apontadas pelo empresário Marcos Valério Fernandes e pelo publicitário Duda Mendonça em depoimentos às CPIs. O tucano disse à noite já ter 30 assinaturas no requerimento:

¿ Pretendo apresentar o requerimento amanhã à mesa. A CPI já é uma verdade. Não há quem nos impeça de investigar o que disse Duda, o que disse Marcos Valério.

Além do PSDB mineiro, Valério revelou que mandou dinheiro não contabilizado aos diretórios petistas de Rio Grande do Sul (R$1,2 milhão), Rio de Janeiro (R$2,6 milhões), Distrito Federal (R$405 mil) e para um município em Alagoas (R$150 mil). Para o PT nacional, foram R$4,9 milhões. Os tucanos declaram haver também evidências de dinheiro ilegal para Ceará e Santa Catarina (R$60 mil).

Duda disse à CPI dos Correios que em 2002 fez um pacote com o PT, por R$25 milhões, pelas campanhas de Lula, do governo paulista, na qual concorreu José Genoino, ex-presidente do partido, e do Senado, com Aloizio Mercadante, que foi eleito.

¿Em 2002, fiz um novo pacote com o PT. Incluía não só os comerciais de televisão, no primeiro turno, como o programa do primeiro turno, como algumas campanhas, alguns programas regionais e mais a campanha do Presidente Lula, a campanha do Deputado Genoino ao Governo de São Paulo, a campanha do Senador Mercadante, a campanha da Benedita. Aí, nós apresentamos um pacote ao PT, tudo incluído, se não me falha a memória, algo em torno de R$25 milhões e alguma coisa¿, disse Duda no depoimento. (Lydia Medeiros)