Título: Valerioduto derruba tucano
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 26/10/2005, O País, p. 3

Envolvido com Marcos Valério, Azeredo é levado a renunciar à presidência do PSDB

Para evitar mais desgaste à imagem do PSDB e à atuação da oposição nas CPIs, os tucanos levaram o senador Eduardo Azeredo (MG), envolvido com o esquema do valerioduto, a deixar a presidência do partido. O cargo ficará até o dia 18 com o prefeito de São Paulo, José Serra, que estava licenciado da função desde o início do ano. A decisão foi tomada em mais de três horas de tensa reunião com os senadores Tasso Jereissati (CE), Sérgio Guerra (PE) e o líder, Arthur Virgílio (AM).

Azeredo anunciou a saída em discurso no plenário, defendendo-se das denúncias de prática de caixa dois na campanha de 1998, quando concorreu à reeleição ao governo mineiro. José Serra fica no cargo de presidente até 18 de novembro, quando transfere o poder para Tasso, como tentativa de demonstrar união no partido.

A situação de Azeredo se complicou a partir da revelação de que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza saldou no dia 18 de setembro de 2002 uma dívida sua, no valor de R$700 mil, que estava sendo executada por Cláudio Mourão, ex-tesoureiro de sua campanha. Os tucanos interpretaram o surgimento da denúncia como tentativa do governo e do PT de jogar o PSDB no cesto de denúncias apuradas pelas CPIs, embalando-as como um problema eleitoral que atingiria a todos os partidos e políticos.

A renúncia de Azeredo foi acompanhada de forte reação tucana, acirrando as relações entre oposição e governo. Virgílio anunciou obstrução à votação da medida provisória 255, que retoma pontos da chamada MP do Bem, derrubada pelo próprio governo dias atrás, e fez circular requerimento para a criação de uma nova CPI, destinada a apurar denúncias de caixa dois. Para o PSDB, ao envolver o partido, o governo tenta ¿jogar uma cortina de fumaça¿ sobre os casos de corrupção e desvio de dinheiro público.

¿Estratégia de embuste foi nítida¿

O discurso de Azeredo foi marcado para as 16h, mas ele só chegou à tribuna por volta das 21h devido ao intenso debate sobre a manutenção do mandato de João Capiberibe (PSB-AP), que incendiou o plenário. Ele argumentou que deixava a presidência para se defender das acusações.

¿ Rejeito as tentativas deliberadamente calculadas de me fazer passar por marginal da política, com o objetivo exatamente de acobertar ou desviar a atenção dos verdadeiros delinqüentes ¿ afirmou o senador. ¿ A estratégia de embuste sempre foi nítida, embora sempre camuflada por artifícios que enganam a opinião pública.

Azeredo negou ter conhecimento dos métodos de arrecadação de sua campanha. Disse que se dedicava às ações políticas e à administração. Mas admitiu ter errado e afirmou que os candidatos não acompanham os atos dos tesoureiros e coordenadores:

¿ Ao administrador moderno é imposto de tudo saber. Se alguma falha cometi, foi exatamente de tudo não saber ¿ disse. ¿ Trata-se de pura má-fé ou deslavada hipocrisia desconhecer-se que praticamente todos os candidatos a cargos majoritários ¿ principalmente à Presidência e ao governo de estado ¿ ficam entregues às articulações e à busca do voto.

Em apartes, tucanos e pefelistas acusaram o governo de corrupção, enumerando os casos analisados nas CPIs, como forma de marcar diferença entre esses delitos e o caixa dois.

Azeredo fez um discurso duro, diferente de seu tom habitual. E alertou:

¿ Não se enganem comigo. Sei reagir quando necessário e essa é hora de reagir ¿ disse o senador.

¿ Não tenho nada a dever de corrupção, senadora.

Ele exigiu coerência do governo:

¿ Atiram-me pedras por não ter tido conhecimento de uma irregularidade de campanha, e, brandindo o mesmo argumento, lançam-se na defesa do presidente Lula, que fez vistas grossas para o maior escândalo já registrado na política brasileira.