Título: Coordenação do Planalto age para evitar confronto entre PT e tucanos
Autor: Lydia Medeiros
Fonte: O Globo, 25/10/2005, O País, p. 4

Lula não apóia representação contra senador do PSDB no Conselho de Ética

BRASÍLIA. Um telefonema do ministro das Relações Institucionais, Jaques Wagner, tentou serenar os ânimos dos tucanos, reunidos na manhã de ontem no gabinete do senador Tasso Jereissati (CE) para decidir a saída do senador Eduardo Azeredo (MG) da presidência do partido. O ministro, de acordo com o relato do líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), que pegou o telefone das mãos de Azeredo, procurou mostrar que o governo não fora a fonte das denúncias e que não queria o confronto.

O líder tucano lembrou que o requerimento de convocação do ex-tesoureiro Mourão à CPI dos Correios partiu da senadora petista Ideli Salvatti (SC), e advertiu que a intenção do partido era obstruir as votações e investigar campanhas passadas. Wagner retrucou:

¿ Não perseguimos vocês. Nossos partidos são como primos.

¿ Sim, são como árabes e israelenses. Não tem problema algum primos guerrearem ¿ devolveu Virgílio, mantendo o ânimo beligerante.

Virgílio usa frase de ACM para advertir petistas

Virgílio disse a Wagner que o Senado acabara de fazer reuniões para discutir as medidas provisórias em pauta, e que o PSDB não pudera participar, porque teve de discutir o caso Azeredo. Lembrou ao ministro uma frase do senador Antonio Carlos Magalhães (PFL), baiano como o ministro, que passou ao folclore político:

¿ Vou te passar uma lição baiana: reunião no Senado da qual não participa o PSDB não vale.

O Palácio do Planalto atuou nos bastidores para evitar que o PT tomasse qualquer iniciativa contra Eduardo Azeredo. Segundo assessores palacianos, apesar do descontentamento do presidente Lula com setores da oposição, a expectativa do governo com o gesto é tentar baixar a temperatura da crise. A ordem do Planalto foi de que o PT não deveria se envolver de forma alguma no episódio Azeredo.

Entre os petistas, alguns chegaram a defender a abertura de um processo contra Azeredo no Conselho de Ética do Senado, além de convocar o tucano para novas explicações na CPI dos Correios. Ao saber do espírito bélico de alguns integrantes do PT, o Planalto resolveu reagir. O próprio presidente Lula classificou a decisão de não tomar nenhuma iniciativa em relação ao senador Eduardo Azeredo de um gesto de boa vontade com a oposição.

¿ Esse é um problema do PSDB. Não vamos entrar com nenhuma representação contra o Azeredo ¿ disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT).

O governo quer evitar a todo custo que a situação volte ao patamar de agosto, quando Lula atingiu o nível mais baixo de popularidade e a oposição chegou a discutir a possibilidade de impeachment. No Planalto, ministros e assessores descartam de forma veemente que esse entendimento possa ser caracterizado como acordão ou tentativa de pizza. Preferem classificar a iniciativa de uma disposição para o bom senso.