Título: PRF é alvo de denúncias e tem efetivo reduzido
Autor: Selma Schmidt
Fonte: O Globo, 09/11/2004, Rio, p. 15

No Estado do Rio, a Polícia Rodoviária Federal (PRF) conta com um efetivo minguado e já foi alvo de denúncias de extorsão e até de ligação com traficantes de drogas. Em outubro do ano passado 15 policiais rodoviários federais do Rio foram acusados de corrupção, formação de quadrilha e tráfico de influência, entre eles o ex-superintendente da PRF do Rio Francisco Carlos Silva, o Chico Preto. Através de gravações telefônicas autorizadas pela Justiça, a Procuradoria da República chegou a uma quadrilha que forneceria notas fiscais e cobraria propinas para permitir o transporte clandestino de combustível.

Em março de 2001, o policial rodoviário Milton Assunção foi afastado de suas funções, depois de ser filmado por uma câmera da Rede Globo recebendo dinheiro para liberar um caminhão, parado numa blitz na Rio-Petrópolis. O caminhão estaria sem o equipamento de controle de velocidade (o tacógrafo).

Policiais foram presos com dois quilos de cocaína

Dois meses antes, uma dupla de policiais rodoviários foi presa com dois quilos de cocaína dentro de um shopping, em Nova Iguaçu. A polícia levantara a suspeita de ligação dos policiais com o traficante Fernandinho Beira-Mar.

Denúncias de irregularidades na fiscalização das estradas federais no Rio também derrubaram Sérgio Max Lins da superintendência da PRF no Rio. A exoneração se seguiu a uma reportagem exibida pela Rede Globo.

Em novembro de 1999, a PRF no Rio abriu sindicância para apurar denúncias de pagamento de propina a patrulheiros do Posto de Piraí, feitas por Alda Inês dos Anjos Oliveira, ex-namorada de Fernandinho Beira-Mar.

No mesmo ano, em agosto, o guarda rodoviário federal Vitor Felipe de Oliveira foi preso com um carro clonado, numa blitz na RJ-104, em Alcântara, mas conseguiu fugir aproveitando o descuido de PMs. Apesar de o carro ser clonado, ele tinha um documento de autorização para estacionar no pátio da PRF.

Outro superintendente foi exonerado em 1997

Em março de 1997, José Augusto Joaquim, outro superintendente da PRF no Rio, foi exonerado do cargo. Na época, o diretor-geral da PRF, Lorival Carrijo da Rocha, afirmara se tratar de procedimento administrativo normal. Mas o Sindicato dos Policiais Rodoviários dissera que irregularidades administrativas eram mantidas em segredo. Por determinação do Ministério da Justiça, em setembro de 1996, uma comissão de funcionários da Superintendência de Minas Gerais interveio no Rio, assumindo a diretoria do órgão e afastando Carlos Hamilton Fernandes Pinheiro, que cobria férias de José Augusto.

Para patrulhar quase 1.500 quilômetros de estradas federais, a PRF do Rio tem apenas 648 homens, que se revezam numa escala de 24 horas de trabalho por 72 horas de repouso. E o grupo ainda era mais reduzido: no início do ano, cerca de 50 policiais foram transferidos emergencialmente de outros estados e, em agosto, 93 homens que passaram em concurso público realizado em 2003 ingressaram na corporação.

Segundo a PRF, para atender as suas necessidades, o efetivo atual teria de ser triplicado. Tamanha precariedade tem facilitado a entrada no território estadual de uma multidão de ¿formiguinhas operárias¿ do tráfico, que embarcam em ônibus da linha Rio-São Paulo com pequenas quantidades de maconha e cocaína.