Título: PF PRENDE 43 EM OPERAÇÃO NA AMAZÔNIA
Autor: Jaílton de Carvalho/Ismael Machado
Fonte: O Globo, 27/10/2005, O País, p. 15
Quadrilha auxiliava contrabandistas falsificando documento usado no transporte de madeira
BRASÍLIA e BELÉM. A Polícia Federal prendeu ontem, na Operação Ouro Verde, 43 empresários, comerciantes e funcionários públicos acusados de envolvimento num esquema de contrabando de madeira de florestas do Pará e de Rondônia. Até à noite, a polícia ainda tentava prender pelo menos mais dez integrantes da organização que também tiveram pedido de prisão decretado pela Justiça Federal.
A quadrilha é especializada na falsificação e distribuição de Autorização para Transporte de Produtos Florestais (ATPFs), o documento usado no transporte da madeira. O Ibama e o Ministério Público Federal também participaram da operação. Foi a quarta grande operação de combate ao contrabando de madeira desde o ano passado. A investigação teve início em dezembro de 2004. Uma ATPF falsificada poderia custar até R$1.800. O esquema contava com empresários de vários segmentos e servidores públicos.
Valor dos negócios pode chegar a R$65 milhões
O Ibama e a PF estimam que em apenas quatro municípios paraenses - Paragominas, Tomé-Açu, Tailândia e Tucuruí - 148 empresas do setor comercializaram ilegalmente mais de 72 milhões de metros cúbicos de madeira em toras beneficiadas. O valor dos negócios fraudulentos pode chegar a cerca de R$65 milhões.
Em setembro, o Ibama de Belém encaminhou à PF 724 ATPFs suspeitas, achadas nas prestações de contas de várias empresas. A falsificação foi confirmada por peritos do Ibama. Após três meses de auditoria, o Ibama descobriu que oito siderúrgicas do Pará e Maranhão consumiram ilegalmente 7,4 milhões de metros de carvão nos últimos cinco anos e deixaram de replantar 60 mil hectares como reposição florestal obrigatória.
O Ibama aplicou multas no valor de R$509 milhões em oito grandes siderúrgicas que estariam consumindo carvão vegetal de origem ilegal.
Irritada com as cobranças contra o crescente desmatamento na Amazônia, a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, disse que que nunca se atacou tanto o comércio ilegal de madeira. Marina argumenta que, só no Mato Grosso do Sul e no Pará, centro de duas grandes operações, a PF descobriu cerca de mil empresas fantasmas usadas por contrabandistas de madeira.
- Isso nunca aconteceu no combate ao desmatamento - afirmou a ministra, depois de anunciar os primeiros resultados da Operação Ouro Verde.
Segundo a Polícia Federal, a quadrilha usava documentos falsos para vender madeira retirada de florestas do Pará e de Rondônia para São Paulo, Paraná, Ceará, Rio Grande do Norte e Pernambuco, entre outros estados. A PF e o Ibama ainda não tem uma estimativa do valor total do estoque de madeira comercializado pela organização. Mas sabe que, só em três municípios do Pará, ano passado, a organização movimentou mais de R$70 milhões com o comércio de madeira ilegal.
INVESTIGAÇÃO DESDE JUNHO
A Operação Ouro Verde, que prendeu ontem de 43 pessoas, é um desdobramento da Operação Curupira, deflagrada pela Polícia Federal no dia 2 de junho deste ano. Na operação de repressão policial ao contrabando de madeira extraída ilegalmente na Amazônia, 84 pessoas foram presas, entre elas funcionários do Ibama. A operação, entretanto, não foi um sucesso por causa da prisão, considerada ilegal, do diretor de Florestas do Ibama, Antônio Carlos Hummel, a pedido do Ministério Público Federal. Quatro dias depois, a Justiça mandou soltar Hummel por falta de provas ou mesmo indícios de seu suposto envolvimento com a máfia do contrabando de madeira. Hummel saiu da prisão e voltou ao seu antigo cargo no Ibama. Os presos na Operação Curupira foram acusados de subornar servidores do Ibama para facilitar a emissão de documentos que permitiam legalizar madeira de terras indígenas e áreas de proteção.
Legenda da foto: EM BELÉM, um policial federal conduz um dos 43 presos sob a acusação de comércio ilegal de madeira