Título: TERROR E SANGUE NO MERCADO
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Fonte: O Globo, 27/10/2005, O Mundo, p. 31

Homem-bomba de 20 anos mata cinco no primeiro ataque em Israel desde a retirada de Gaza

Numa ameaça às negociações de paz em andamento entre palestinos e israelenses desde a retirada da Faixa de Gaza, um terrorista palestino detonou ontem os explosivos que levava junto ao corpo, espalhando destruição numa feira livre lotada na cidade de Hadera. A explosão matou cinco pessoas além do homem-bomba e feriu 30. Foi o primeiro ataque em território israelense desde o dia 28 de agosto.

A Jihad Islâmica assumiu a responsabilidade pelo ataque minutos depois da ação. Segundo o grupo terrorista, o suicida era Hassan Abu Zeid, um jovem de 20 anos morador da cidade de Qabatiyeh, na Cisjordânia. O nome do homem-bomba foi anunciado na cidade por alto-falantes. Segundo a Rádio Israel, Zeid fora libertado de uma prisão israelense há cerca de um mês.

A cena do ataque era dantesca. O terrorista detonou os explosivos por volta das 16h (12h em Brasília) em frente a uma barraca de comida. Cadáveres ficaram espalhados e destroços de barracas desabaram sobre feridos, que gritavam por socorro.

- Pedaços de corpos chegaram até o meu apartamento. A destruição foi realmente enorme - disse Idan Akiva, que mora a cem metros do local da explosão.

Hadera, cidade costeira no norte de Israel, já fora alvo de diversos ataques nos últimos cinco anos.

Segundo a Jihad Islâmica, o ataque foi uma vingança pela morte do seu líder militar, Luay Saadi, que foi assassinado numa operação do Exército de Israel na Cisjordânia há alguns dias.

- Esta é uma retaliação natural devido aos crimes cometidos contra o nosso povo, principalmente o crime contra Luay Saadi - disse o porta-voz do grupo, Khader Habib. - A Jihad Islâmica estava comprometida com a trégua e continua comprometida com ela, mas esta trégua deve ser mútua. Não podemos aceitar uma trégua de um lado só.

Israel estuda como será retaliação

Saadi foi o mais alto comandante de grupos terroristas ou guerrilheiros assassinado desde que a retirada dos colonos e militares israelenses da Faixa de Gaza foi completada, em 12 de setembro. Ontem também foi o décimo aniversário do assassinato do líder da Jihad Islâmica Fathi Shekaki num hotel em Malta, numa operação creditada por muitos a Israel.

O ministro da Defesa de Israel, Shaul Mofaz, faria uma reunião ainda ontem à noite para avaliar qual seria a resposta ao atentado. Segundo fontes, a retaliação seria limitada a alvos específicos, e não uma operação de grande porte como ataques a várias cidades palestinas da Cisjordânia ou a Gaza. Antes da reunião, Mofaz falou:

- Faremos tudo o que for possível para atacar a infra-estrutura da organização que cometeu este ato de terror.

Por meio de uma nota, o presidente da Autoridade Nacional Palestina (ANP), Mahmoud Abbas, condenou a ação, dizendo estar "furioso com o ataque."

"Isto prejudica os interesses palestinos e pode ampliar o ciclo de violência, caos, extremismo e banhos de sangue. Não é permitido a ninguém fazer justiça com as próprias mãos."

O governo de Israel cancelou todos os contatos com a ANP e uma reunião entre ministros de Comunicação dos dois lados que seria realizada ontem foi cancelada.

- A ANP tem que, de uma vez por todas, desarmar e desmantelar as organizações terroristas - disse David Baker, alto funcionário do Gabinete do premier Ariel Sharon.

O ato terrorista foi condenado em todo o mundo. O secretário-geral das Nações Unidas, Kofi Annan, a presidência britânica da União Européia e vários governos do continente, além do governo americano, criticaram o atentado.

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