Título: GRIPE AVIÁRIA: QUATRO PESSOAS SOB SUSPEITA FORA DA ÁSIA
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Fonte: O Globo, 27/10/2005, O Mundo/Ciência e Vida, p. 34

Moradores da Ilha Reunião e português estão sendo submetidos a teste. Ocorrem primeiros casos em outros continentes

LONDRES. O anúncio ontem dos primeiros quatro casos suspeitos de gripe aviária em pessoas fora da Ásia disparou o alarme na Europa, no mesmo dia em que especialistas advertiam para o risco de a doença chegar à África. Três moradores da Ilha Reunião, na costa oeste africana, podem ter contraído o letal H5N1, bem como um português. Especialistas alertaram, no entanto, que com o crescente temor da eclosão de uma epidemia humana, o número de casos suspeitos deve se multiplicar nos próximos dias.

A França confirmou estar investigando três casos suspeitos de gripe de aves em moradores da Ilha Reunião, no Índico. Testes iniciais deram resultado positivo para a gripe, mas exames adicionais são necessários para confirmar a infecção pelo H5N1. Os três já estão sendo tratados com antivirais, embora os resultados finais dos exames ainda sejam aguardados. Eles estiveram recentemente na Tailândia, onde visitaram um zoológico de aves e tiveram contato com os animais.

- Até o momento, esses são apenas casos suspeitos de gripe aviária. Nada foi confirmado - assegurou o ministro da Saúde da França, Xavier Bertrand.

Em Portugal, um homem hospitalizado com sintomas de gripe depois que suas galinhas morreram também está sendo testado para a presença do H5N1 ainda sem resultados conclusivos.

Para completar o clima de nervosismo, a China anunciou ontem a detecção de três novos focos da doença em aves e a Croácia confirmou que cisnes encontrados mortos na semana passada estavam mesmo infectados pelo H5N1. Vários governos europeus estão monitorando as aves migratórias e testando diversos pássaros na tentativa de impedir que a doença se espalhe ainda mais.

Embora a disseminação da doença na Europa venha causando alarme, especialistas garantem que o movimento praticamente não aumenta as chances de o vírus H5N1 sofrer uma mutação que o torne transmissível entre humanos, deflagrando a temida pandemia. O mais provável, dizem, é que tal mutação ocorra na Ásia, onde a situação, segundo alguns, estaria fora de controle.

A África, no entanto, é motivo de preocupação para as autoridades sanitárias. A Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO, na sigla em inglês) alertou para o perigo de aves migratórias já estarem levando o H5N1 para a África.

Um artigo publicado na "Nature" por especialistas da agência sustenta que as conseqüências econômicas e na área da saúde podem ser muito piores no empobrecido continente do que no sudeste da Ásia. Inclusive no que diz respeito a medidas preventivas, disseminação do vírus e capacidade de resposta.

Oriente Médio também preocupa

Alguns países da África já baniram a importação de aves provenientes de países asiáticos atingidos pela epidemia.

- O problema é sério e estamos suspendendo as importações de aves e produtos derivados até que a situação se normalize - afirmou o diretor de Recursos Animais e Prevenção de Doenças de Uganda, William Olaho.

O diretor dos serviços médicos do Quênia, James Nyikal, também foi taxativo:

- Aumentamos a vigilância sanitária para nos precavermos contra o vírus.

Ainda assim, especialistas temem pela precariedade dos meios de prevenção e testagem africanos, sobretudo em áreas rurais do interior do continente. A região do Vale do Rift, por exemplo, é apontada como uma das mais perigosas, já que os habitantes dependem da criação de aves domésticas para sobreviver e o local é rota de várias aves migratórias. O impacto de uma epidemia, afirmam, seria extremamente mais grave do que na Europa ou mesmo na Ásia.

- A perda de aves domésticas nessa área teria um efeito devastador na economia - disse Lea Borkenhagen, gerente de Desenvolvimento Sustentável da ONG Oxfam.

O artigo da "Nature" alerta ainda para o risco de o vírus chegar ao Oriente Médio, onde o impacto também pode ser mais grave do que em outras regiões.

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