Título: Oposição: placar mostra que Planalto lavou as mãos
Autor: Isabel Braga
Fonte: O Globo, 28/10/2005, O País, p. 5

Aliados dizem que resultado no Conselho de Ética é prova do sentimento de condenação prévia na Câmara

BRASÍLIA. Para os aliados, a derrota do deputado José Dirceu (PT-SP) ontem no Conselho de Ética e anteontem na Comissão de Constituição e Justiça é reflexo do sentimento de condenação prévia generalizada na Casa. Para a oposição, um sinal de que o governo abandonou o ex-aliado para tentar se livrar da crise. Embora haja uma tendência de cassação na votação do plenário da Casa, onde o voto será secreto, o resultado não deverá ser avassalador como nas votações em que os deputados têm de expor seu voto.

Para o líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), a derrota de Dirceu é um sinal de que, de fato, não houve ação do governo:

- Há vontade do Planalto de distanciar-se de Dirceu. Não querem assumir a realidade. A votação aberta, no caso de Dirceu, pesa contra. Mas no plenário, com voto secreto, não acredito em resultado tão elástico.

O tucano Gustavo Fruet (PR) disse que a derrota sofrida por Dirceu no Supremo, anteriormente, e na própria CCJ minaram suas chances.

- Tirou força. A maioria dos deputados acaba pensando: se o Supremo não deu, se a CCJ não deu, sou eu quem vai votar assim? - disse Fruet.

Outro ponto que pesou contra Dirceu, na opinião do tucano, foi o abandono dos petistas e do governo:

- Até hoje, pelo que vi, só o deputado Nilson Mourão (PT-AC) subiu à tribuna para defender Dirceu.

Mercadante defende filho de Dirceu

O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), ocupou ontem a tribuna, mas apenas para sair em defesa do filho de Dirceu, José Carlos Becker. Segundo ele, o anúncio da ação de improbidade do Ministério Público contra Zeca Dirceu, feito na véspera da decisão do Conselho de Ética e sem qualquer prova de desvio de recursos públicos, não é compatível com o devido processo legal.

- Não posso dizer que a convicção dos parlamentares tenha se firmado em função disso, mas penso que é uma injustiça que fere o estado de direito e não ajuda o processo de investigação. Ninguém pode ser poupado, mas também não pode ser perseguido porque é filho (de Dirceu) - disse Mercadante.

Indagado sobre a falta de apoio do governo ao ex-ministro, Mercadante respondeu:

- Não há abandono. O governo tem responsabilidades e o ministro José Dirceu pediu o afastamento do governo para se defender. Ele é quem tem que fazer sua defesa e responder pelos seus atos. Sobre muitas questões ele tem se defendido de forma consistente, sobre outras não tanto. Não tenho avaliação de como será a votação em plenário, mas é evidente que as votações na CCJ e no Conselho mostram uma tendência.

O petista Fernando Ferro (PE) também afirma que uma ação de governo em favor de Dirceu seria ingerência e poderia prejudicá-lo. Para ele, o resultado de ontem mostra que há um sentimento preestabelecido pela condenação.

- Imaginem uma ação de governo (pró-Dirceu). Seria ingerência e poderia complicar sua situação - disse Ferro. - Ele tem partido para uma defesa pessoal. A bancada está majoritariamente com ele e agora, diante da decisão do Conselho, seremos chamados a tomar uma posição.

Socialista: "Ambiente é desfavorável a ele"

O líder do PSB, deputado Renato Casagrande (ES), enfatizou a luta de Dirceu e afirmou que o voto aberto - tanto na CCJ quanto no Conselho de Ética - é contaminado pela pressão da opinião pública.

- O ambiente é desfavorável a ele. Ele sabe das dificuldades por tudo que ele simboliza nessa crise. Mas está lutando muito e é difícil arriscar um palpite sobre a votação em plenário.

O presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), disse que o resultado de ontem já vinha se desenhando nos últimos dias e que acredita que Dirceu também será cassado em plenário:

- O que o Conselho de Ética pedir, será aceito pelo plenário.

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Legenda da foto: JÚLIO DELGADO, relator do processo contra Dirceu, e o presidente do Conselho, Ricardo Izar, ao fim da votação