Título: SAÚDE DESCONFIA DE NOVA AÇÃO DA MÁFIA DO SANGUE
Autor: Jaílton de Carvalho
Fonte: O Globo, 28/10/2005, O País, p. 14

Ministro suspende pregão para a compra de coagulante usado no tratamento de hemofílicos

BRASÍLIA. O ministro interino da Saúde, José Agenor Álvares, determinou a suspensão do pregão aberto para a compra de 54 milhões de unidades internacionais de fator 8, coagulante essencial para o tratamento de hemofílicos. Ele suspendeu a licitação, de cerca de R$20 milhões, por desconfiar que o antigo cartel das empresas denunciadas na Operação Vampiro, da Polícia Federal, voltou a atacar.

Numa medida preventiva, Agenor pediu à Secretaria de Direito Econômico (SDE), ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e à PF que investiguem o caso.

O pregão foi aberto anteontem às 10h, e suspenso três horas depois. As primeiras suspeitas surgiram na abertura da disputa, quando apenas duas empresas, a Baxter e a Octopharma, se credenciaram. Momentos depois, a Baxter se retirou da concorrência com o argumento de que não teria condições de entregar o medicamento no prazo fixado pelo ministério. Sem concorrentes, a Octopharma fixou o preço da unidade internacional do fator 8 em US$0,24, bem acima dos US$0,16 pagos pelo ministério na última compra do medicamento, em julho. Se aceitasse o preço da Octopharma, o ministério teria que desembolsar aproximadamente R$30 milhões.

O ministério também desconfiou da ausência dos demais concorrentes na disputa. O ministro quer que a SDE, o Cade e a PF investiguem se os laboratórios fizeram acordos para lotear o mercado e, com isso, cobrar preços elevados, como fazia a máfia dos vampiros. O Brasil é o segundo mercado mundial em consumo de fator 8.

A OPERAÇÃO VAMPIRO

Em maio de 2004, a Polícia Federal prendeu 17 pessoas acusadas de fraudar licitações para compra de derivados de sangue no Ministério da Saúde. Foram denunciados 20 lobistas, empresários e funcionários públicos. Entre os acusados estava o então coordenador de Recursos Logísticos do Ministério da Saúde, Luiz Cláudio Gomes, um dos principais auxiliares do então ministro Humberto Costa. Preso pela PF, Luiz Cláudio foi demitido.

Entre os principais acusados de participar do esquema estão os lobistas Jaisler Jabour Alvarenga, Lourenço Rommel Peixoto, Romeu Amorim e Laerte Corrêa Júnior. Eles foram denunciados por formação de quadrilha, corrupção e lavagem de dinheiro, entre outros crimes.

Em julho do ano passado, a Secretaria de Direito Econômico, do Ministério da Justiça, abriu processo administrativo contra 24 empresas e quatro lobistas acusados de formar cartéis para fraudar a compra de derivados de sangue.