Título: Com eco-limites, Morro Azul cresce para cima
Autor: Fernanda Pontes
Fonte: O Globo, 28/10/2005, Rio, p. 16

Para abrigar pista de dança, moradores erguem mais um andar em imóveis na entrada da favela no Flamengo

A favela do Morro Azul, no Flamengo, é mais uma comunidade carente que cresce em ritmo acelerado. Nas últimas semanas, duas construções em alvenaria, que ficam praticamente no asfalto da Rua Paulo VI, ganharam mais um pavimento. Os moradores construíram novos andares sem serem incomodados pelo poder público, apesar de funcionários do município estarem trabalhando na favela na execução do Projeto Bairrinho. O subprefeito da Zona Sul, Marcelo Maywald, afirmou ontem que a obra, ainda em andamento, será embargada hoje.

Imóveis foram ampliados para abrigar pista de dança

A ampliação dos dois imóveis ocorreu porque moradores do Morro Azul resolveram construir uma pista de dança para aproveitar melhor o pagode que acontecia todos os sábados na entrada da favela. A música alta tocada nas madrugadas incomodou vizinhos das ruas Marquês de Abrantes e Jornalista Orlando Dantas.

Por causa disso, a subprefeitura fez uma operação durante a madrugada de sábado e interditou o pagode.

Mas o que impressionou o subprefeito da Zona Sul foi a rapidez com que moradores construíram as novas lajes.

- Levei um susto quando vi porque isso aconteceu em poucas semanas. As biroscas já existiam há anos, mas não sabíamos que estavam promovendo festa com pista de dança num terceiro pavimento - afirmou o subprefeito.

Na segunda-feira, técnicos da prefeitura estiveram no local e constataram a irregularidade. Maywald garante que as obras, que atualmente podem ser vistas até da estação do metrô do Flamengo, serão embargadas hoje.

- O objetivo é demolir esses andares 30 dias após o embargo, como determina a lei do município. Numa segunda etapa, a prefeitura vai urbanizar a área, integrando a favela ao asfalto. A reforma também terá um projeto paisagístico - disse Maywald.

O subprefeito explica que a proposta é futuramente demolir as construções da entrada do Morro Azul e fazer uma praça com brinquedos para as crianças e uma quadra poliesportiva. No seu entorno, será permitida a construção de pequenas lojas para o comércio local.

- Hoje a área está muito degradada, apesar de a prefeitura estar executando o Projeto Bairrinho - afirma o subprefeito da Zona Sul.

O crescimento do Morro Azul, segundo moradores do Flamengo, vem ocorrendo de forma acelerada. Apesar de ter sido incluída no programa do Eco-Limite, a favela não pára de se expandir verticalmente. No ano passado, foram feitas demolições de 20 casas ao lado da Rua Jornalista Orlando Dantas. Mas dados do Censo 2000 mostram que a favela tinha 332 casas e 1.213 moradores. O subprefeito calcula, no entanto, que hoje cerca de 4 mil pessoas morem na favela.

- Moro aqui há 40 anos e, como em outras favelas, a comunidade cresce em ritmo acelerado - disse um morador da Rua Marquês de Abrantes que não quis se identificar

Secretária de Habitação pouco fala sobre favelas

Responsável pelo programa Favela-Bairro e também uma das figuras-chave das políticas da prefeitura do Rio para tentar evitar a expansão de comunidades, a secretária municipal de Habitação, Solange Amaral, tem quase sempre se mantido em silêncio desde que O GLOBO começou a publicar uma série de reportagens sobre a expansão desordenada de favelas, há um mês. Procurada pelo menos 15 vezes por telefone, e-mail ou pessoalmente, Solange Amaral deu apenas duas entrevistas.

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